24 de julho de 2006

Eu ainda tentei aguentar mais um bocadinho, mas a Assembleia foi de férias, e eu não gosto das pré-épocas. Assim, embora as minhas férias do trabalho ainda não tenham chegado, vou tirar 15 dias de férias do blog. São duas semanas para tentar ouvir um bocadinho de música (se a Bia deixar), analisar os planteis da próxima época, e ver a série 9 dos Ficheiros Secretos. Eu já volto!

A pouca vergonha chegou a níveis insustentáveis, quando Rice foi a Beirute defender exactamente o contrário do que pedia há dois dias: um cessar-fogo urgente. Ou seja, depois de protelar uma decisão até que as linhas de comunicação e transporte libanesas estejam completamente arrasadas, os Estados Unidos "permitem" que Israel cesse a destruição do Líbano. O último balanço de vítimas é elucidativo: 373 mortos (declarados) libaneses - 35 israelitas.
Para mim é muito claro que este conflito legitima inteiramente a posição de países como o Irão, o Paquistão ou a Coreia do Norte. A cumplicidade da "comunidade internacional" (abstracção que significa, essencialmente, o interesse dos Estados Unidos da América), qualquer nação pode ser invadida, bombardeada ou destruida mais ou menos à vontade. Neste cada-um-por-si, só os países com armas de destruição maciça têm o poder de repelir invasores. Ou alguém julga que Israel estaria tão à vontade para atacar o Hezbollah se eles tivessem armas nucleares?
Perante a inoperância da União Europeia, do Japão e da Rússia, a guerra civil no Iraque e a invasão do Líbano, o que fazer? Olhem, é o salve-se quem puder, que a indústria da guerra e do petróleo estão esfomeadas e têm de ser alimentadas.

19 de julho de 2006

Este caos é uma variante do CalcioCaos. Num dia posso programar as tarefas, saber a que horas vou chegar e sair de casa, e até fazer contas às horas que tenho de dormir para aguentar o trabalho no dia a seguir.
Na época passada tínhamos a Juventus e o Milão a disputar o título da série A. Nesta época o Milão vai lutar para não descer e a Juventus vai se tentar aguentar na séria B.
Eu às vezes nem sei mais em que dia da semana estou. A terrorista põe-se aos berros sem aviso nem provocação e tanto deixa-me dormir uma noite apenas com intervalos de 2 horas de sobressalto como lembra-se de ficar acordada até as 6 da manhã. E tudo isto com um ar tão despreocupado que faz até aflição.
Não há dúvidas... os bebés são as criaturas mais cruéis e egoístas do Mundo. E a mim tocou-me uma aprendiz de Bin Laden. A fotografia ao lado prova-o. Tenham medo... tenham muito medo.

17 de julho de 2006

Ainda há quem não esteja a perceber nada acerca da possibilidade dos alunos do 12º ano repetirem os Exames de Física e Química na 2ª fase. Ainda há bocado ouvi António Vitorino e Judite de Sousa nos "Notas Soltas" e as asneiras foram tantas que decidi colocar este post, para quem quiser entender.
Os primeiros alunos que apanharam com a Reforma do Ensino Secundário iniciada pelo governo de Durão Barroso concluíram agora o 12º ano. Houve então a necessidade de criar novos exames, já que os alunos da antiga Reforma continuam a poder realizar os Exames dos programas que frequentaram (e que alguns ainda estão a frequentar). Assim, existem dois exames de Matemática, História, Português, Química, Física, etc.
O que se passou é que nos exames de Química e Física, a média de classificações dos alunos foi bastante inferior em relação tanto à média dos exames do ano passado como em relação aos exames da antiga Reforma que se realizaram agora. Assim, e assumindo que os exames estavam mal feitos, o Ministério permite que os alunos repitam o exame e utilizem a melhor classificação para ingresso.
Por isso, a argumentação que exige que todos os alunos possam repetir os exames não faz sentido: esta discrepância só se verificou nestas disciplinas. Por outro lado, esta medida não vai resolver nada. Os exames já estão feitos há meses - e os exames da 2ª fase estarão tão mal feitos como os da 1ª.
Mas, para uma pequena elite, a oportunidade será compensadora: os alunos que podem pagar explicadores a peso de ouro estão, nesta altura, e tendo o exame da 1ª fase como modelo, a preparar-se arduamente para ultrapassar inapelavelmente os colegas que não têm esta oportunidade, e nem podem consultar os seus professores, já que as aulas acabaram.
Como em tudo, quem pode mais chora menos.


Só há duas razões para mais esta guerra: poder e dinheiro.
Em fevereiro, escrevi "E já agora que o Hamas ganhou as eleições, porque não permitir a Israel largar a bomba atómica lá para aqueles lados?. Afinal, a democracia é linda, mas só se forem nossos amigos." Esta guerra interessa em várias frentes, pelos mesmos motivos - a legitimação de si própria e dos governso que a promovem. Não há dúvidas que todos estes pequenos incidentes que escalaram para o conflito aberto foram minuciosamente calculados para isso mesmo. E que, neste aspecto, os governos de Israel, Palestina, Síria, Líbano e Irão são os melhores aliados uns dos outros. Os governos fortes impõem-se através do progresso ou da guerra. Eles escolhem claramente a segunda via.
E o que nós temos com isso? É aqui que entra a 2ª razão. O preço do petróleo já está escandalosamente alto. Há quem esteja a ganhar muito dinheiro com esta interminável instabilidade. E quando falamos de petróleo, é mesmo um mar de dinheiro. A indústria da guerra é o maior negócio do Mundo.
E enquanto a União Europeia não romper com a estratégia de subserviência aos Estados Unidos e, por arrastamento, a Israel, será este pequeno país a decidir os nossos destinos. É rezar, e muito.

Tinha lido algures que para os admiradores dos Arcade Fire era imprescindível ouvir os Islands (não só por serem ambos canadianos, mas por proximidade musical). Foi o que fiz. O disco chama-se “Return to the sea” e é muito fracote, uma miscelânea que coisas sem qualquer coerência. Alguns temas decalcam sem dúvida nenhuma os Arcade Fire, e isso é o melhor que o disco tem, mas o resto é pop para telenovelas australianas. Como há tanta gente a falar bem deste álbum, eu confesso que não percebo nada…

14 de julho de 2006

Já se adivinhava há dias o desfecho, e a equação era simples de resolver: os jornais queriam, Madaíl queria, Scolari queria, e ninguém lá fora o quer. Dois e dois ainda são quatro.
Com alguma boa vontade, concordo que de momento não é fácil encontrar um treinador que pegue na nossa selecção, ou em qualquer outra, já agora. Os treinadores de topo não querem selecções; até Lippi, campeão há uma semana, disse obrigado, mas quer trabalhar a sério. As selecções não são atractivas nem rentáveis. É uma espécie de consagração de carreira, ou início para treinadores sem currículo, como Van Basten, Klismann, ou agora, Donadoni. Assim, das duas uma: ou ficávamos com Scolari, que é caro, e não é grande coisa, mas é popular e não levanta ondas com os jogadores e os jornais; ou contentávamo-nos com um treinador sem experiências a sério (estilo Agostinho Oliveira), que seria contestado desde o momento em que fosse anunciado até sair pela porta pequena.
Embora eu continue a ter a convicção de que, com um treinador a sério, seríamos nesta altura campeões europeus (e quem sabe, mundiais), admito que as alternativas não seriam tão imediatas ou fáceis como eu gostaria que fossem. Então venham lá mais dois anos. Mas, por favor, sem Pauleta.

Pelo menos no primeiro embate, o resultado da investigação italiana já saltou: Juventus, Lazio e Fiorentina na 2ª divisão, e com pontos negativos; Milão permanece, mas também começa o campeonato a dever.
Os clubes vão recorrer, como é óbvio, e é muito provável que isto não fique por aqui. Também não fazem sentido as comparações com o Apito Dourado, nem com outras investigações à portuguesa. Mas impressiona a celeridade com que os italianos resolveram o caso, tal como fizeram os brasileiros no ano passado.
É com estes exemplos que deveríamos aprender.

Dizia o puto, do blogue o puto – o tipo – o totó, a propósito do último disco dos Dead Combo, que esta banda trabalha muito as pontes entre os diversos géneros musicais, mostrando-nos que o aparente hiato entre esses géneros é muito menor do que se pensa (post em questão).
Julgo que é muito por aqui que se deve entender a música dos Dead Combo, sobretudo este vol. II “Quando a Alma Não É Pequena”, um álbum com uma maior combinação de sonoridades (jazz, blues, tango, westerns, música cigana) e cheio de referências à música popular portuguesa; aqui e ali reconhece-se fado, outras vezes pressente-se Zeca Afonso (Aquele Beijo Eterno) ou os Madredeus (Menino, Vento e o Mar), entre outras coisas mais indefiníveis.
É um disco muito nostálgico, remete-nos para um passado nem sempre reconhecível, mas que sabemos estar presente algures na nossa memória.
Pode-se ver aqui o vídeo da faixa que dá nome álbum e ouvir aqui algumas músicas em mp3.

12 de julho de 2006

O Kafka já aqui colocou o vídeo do primeiro single dos Pink Floyd, Arnold Layne (Março, 1967). Deixo agora o See Emily Play (Junho, 1967), o single que levou os Pink Floyd pela primeira vez ao Top of the Pops, e o genial Astronomy Domine, a primeira faixa do álbum The Piper at the Gates of Dawn (Agosto, 1967), o único com a participação de Syd Barrett. É impossível ouvir estas músicas e não perceber que os Pink Floyd estavam muito à frente da pop britânica de então.



11 de julho de 2006

Bem vistas as coisas, a cabeçada de Zidane retrata este campeonato do Mundo. Foi tudo à marrada.
Sinceramente, ainda bem que o campeonato acabou. Já estava farto de jogos medíocres, comentadores que não sabem nada de futebol - até o Marcelo Rebelo de Sousa, por amor de Deus -, apoiantes da selecção que não gostam de futebol. Alguém acredita que entre aqueles tristes todos que estavam no Estádio Nacional exista alguém que saiba quantos gomos tem uma bola de futebol.
P.S. 1: Vilas, falaste antes de tempo - ganhei eu.
P.S. 2: A garrafa de champanhe não se vai estragar. Abro-a quando entrar de férias.

Soube agora da notícia e não consigo arranjar nada para dizer. Syd Barrett foi indiscutivelmente o elemento mais criativo dos Pink Floyd, aquele que deu alma e impulso à banda. Depois, devido aos seu comportamento imprevisível, saiu, gravou dois álbuns a solo e desapareceu. Sem deixar rasto. Dizem que louco.

Foi um colega meu que me chamou a atenção para a excelente selecção fotográfica que o jornal Record costuma fazer para a Revista 10. «Os gajos são autênticos profissionais a captar estados de alma», dizia-me ele. Quis confirmar. Este sábado corri para o quiosque para comprar a última 10 e fiquei convencido. Aqui ficam algumas fotos que retirei da revista (nota: é muito importante clicar nas imagens).

Vejam como o fotógrafo captou o ar assumidamente inteligente de Maniche!

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Nesta, o fotógrafo caiu bem fundo na descendência de Hugo Viana. Para quem duvide da teoria da evolução…

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Reparem agora no ar consolado de Luca Toni! O que será que o ucraniano lhe estará a fazer?

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Afinal quem é que apareceu diante de Dida(?), eis o mistério. Henry ou alguma assombração? Poderá estar aqui a explicação para o golo francês.

10 de julho de 2006


Vejam aqui, no póvoa online.

Parece que Rooney não foi expulso por ter enterrado os pitons nos tomates do Ricardo Carvalho, mas sim por Ronaldo ter pedido ao árbitro que desse vermelho.
Também, segundo consta, a expulsão de Zidane não se deveu à violenta cabeçada no peito de Materazzi, mas sim à provocação do defesa italiano.

Com esta vitória da Itália, acabou para mim um mito: a de que a equipa que estivesse melhor na final ganharia o Campeonato do Mundo. Nunca tinha visto uma final em que a pior equipa ganhou. A Itália fez uma razoável primeira parte, mas depois foi uma lástima, uma decepção total. Na minha opinião, a mais fraca selecção italiana de que tenho memória. A França foi claramente superior, tanto na segunda parte como no prolongamento. Perdeu, para mal do futebol, mas para bem da nossa alma, já não havia pachorra para tanto chauvinismo francês.
Zidane confirmou que é inegavelmente o melhor jogador do mundo, não é por um acto irreflectido que se lhe pode tirar este título, sobretudo porque todos sabemos que o francês não é indisciplinado.

9 de julho de 2006

Numa daquelas pequenas-grandes ironias em que o futebol é pródigo, a nossa melhor exibição em toda a prova foi acompanhada pela derrota mais categórica.Terá razão Scolari, quando abdica de jogar futebol para tentar ganhar jogos? Não sei. O jogo não dá respostas a tudo.
Finalmente Deco deu um cheirinho do seu futebol, por fim vimos jogadas de combinação atacante a resultar em oportunidades de golo (falhadas), afinal conseguimos ver a selecção aproveitar toda a largura do terreno. Jogámos bem, sim senhor; ainda não um grande jogo, mas bom. E parecia que o destino de uma boa exibição teria de ser inevitavelmente a derrota.
Mas também finalmente sofremos golos em remates de fora da área (e logo 3), daqueles em que a defesa não tem grande culpa; e até Ricardo deu um ar da sua graça, com o franguinho da ordem, que acabou por ser decisivo para o jogo.
Bem disse ontem um futeboleiro no "Biqueiradas", da SIC: o desempenho da selecção é ainda mais fabuloso porque jogámos todo o campeonato com 10 jogadores e um meco à frente; por vezes só com 9 (o meco à frente e um tronco adiante dos centrais). A teimosia pode ser por vezes confundida com perseverança ou com fé; nesta selecção, ou é burrice ou sacanice. Mas como disse muito bem ontem o meu amigo Rui, Nuno Gomes não podia jogar - vejam lá se o homem joga de início e marca dois ou três golos!!! O que é que diríamos depois?
No tempo que ainda vai mediar a nossa próxima participação numa competição, temos um grande problema para resolver: não temos pontas de lança. Eu sugiro Liedson.

7 de julho de 2006

Os Sonic Youth são a melhor banda rock do mundo, e só por isso é sempre uma grande notícia sabermos que têm um novo disco, sobretudo porque eles estão em grande forma. Rather Ripped (todas as músicas aqui disponíveis) é um excelente disco, recheado de inspiradas e despojadas canções pop-rock (a saída de Jim O’Rourke terá contribuído para uma maior simplicidade das composições e para um certo retorno às origens, com canções a fazer lembrar os discos dos anos 80), tendo como único senão talvez uma certa falta de novidade (mas que se poderá exigir de uma banda que já tem 25 anos?). O disco na minha opinião vai em crescendo, as melhores músicas (como Rats, Lights Out e sobretudo a excelente composição Pink Steam) surgem na segunda parte do disco.
Em baixo Incinerate.

6 de julho de 2006

Estranhamente, custou-me mais ouvir os nossos jogadores do que a derrota em si. Que sina teremos nós para não sermos capazes de aceitar uma derrota? É o árbitro, é a FIFA, é a retranca, é qualquer coisa menos os nossos erros e os méritos do adversário.
Por falar em erros, e sem tentar encontrar culpados, Scolari exagerou ontem. A teimosia na aposta em Costinha e Pauleta pagou-se logo. No lance do penalti, Costinha estava encostado à área e os franceses entraram pelo meio da nossa defesa como quiseram. Já Pauleta foi a nulidade do costume, até 15 minutos antes de ser substituído.
Outro factor estranho foram as substituições. Ninguém entende que, estando a perder, e depois de termos conquistado 10 metros de terreno aos franceses, o que começou a colocar Pauleta em jogo, o açoriano tenha saído e Ronaldo, que estava a ser o único a conseguir rasgar, tenha sido deslocado para o meio, onde apagou-se por completo. Depois, ao tentar emendar a mão, entrou Postiga... E a selecção deixou de jogar futebol.
No meio destes erros, os jogadores fizeram o que puderam. As pernas não deixaram a cabeça funcionar e a França aproveitou a sua oportunidade. Nada mais a dizer, a não ser que daqui a 4 anos há mais.

Agora que o Campeonato do Mundo acabou para nós (o jogo de Sábado não tem interesse nenhum), importa fazer o rescaldo.
1. Portugal conseguiu finalmente fazer um Mundial ao seu nível. Temos grandes jogadores, temos grandes equipas, temos esta paixão pelo desporto-rei, inevitavelmente teríamos de superar esta malapata dos mundiais;
2. Ao nível exibicional, estivemos uns furos abaixo do que esperava. Penso que isto se deveu sobretudo à má forma de alguns jogadores fundamentais da nossa linha mais avançada: Pauleta sobretudo (não consigo perceber por que razão Nuno Gomes não foi opção), Deco (que grande desilusão no jogo de ontem!), e mesmo Ronaldo não esteve muito bem (fez ontem uma grande primeira parte, mas depois apagou-se). Figo foi o melhor dos médios ofensivos, mas também foi perdendo o fulgor no decorrer da competição. Notou-se que faltou banco à equipa (poderei falar agora de Quaresma?). O resultado de tudo isto é que na fase do mata-mata marcámos apenas um golo em 300 minutos de futebol!!
3. O melhor jogador português foi o Maniche. A defesa também esteve muito bem nesta segunda fase da competição (estranhamente, diga-se, já que na primeira fase parecia meter água por todos os lados). Meira, confesso, surpreendeu-me pela positiva.
4. Não desgosto de Scolari, mas penso que é altura de ele sair. É um treinador com alma e estofo para aguentar a pressão, só que tem um defeito muito grande: é muito quezilento, parece que anda sempre atrás de conflitos e a arranjar inimigos, e, quer queiramos ou não, isto acaba por transparecer nos jogadores.

5 de julho de 2006

Perdemos por culpa de duas pessoas.
A primeira é o Pelé, que disse que iríamos ganhar. Sabe-se que a boca do Pelé é um autêntico cemitério de selecções.
A segunda é a Sónia, que veio ver o jogo cá a casa. Eu disse logo que a Sónia ia dar azar. Deu.

Ontem, de um modo casual, descobri qual era a melhor forma de acompanhar o Mundial e evitar o aborrecimento: é ver apenas o prolongamento. Numa altura em que os jogadores estão esgotados e os sistemas tácticos entram em ruptura, então sim temos emoção, lances de perigo e, espante-se, golos!
Pelo aquilo que eu vi (e, repito, só vi o prolongamento), os italianos foram bem superiores. Os alemães nem mesmo nessa altura, quando o jogo estava bem aberto, arranjaram inspiração para criar perigo e superar a defesa italiana.

4 de julho de 2006

É pena que Petit não possa jogar. Seria o jogador ideal para acompanhar Zidane. Como Costinha não está em boas condições, preferiria Tiago, recuando um pouco Maniche para tentar tapar a zona central. É provável que Zidane descaia um pouco para a direita, tentando aproveitar o facto de Nuno Valente ser o elo mais fraco da defesa portuguesa. Tiago é mais móvel que Costinha, que tem demasiada tendência para encostar-se aos centrais, e faz a equipa recuar mais.
Como aconteceu contra o México, Holanda e Inglaterra, a equipa deve apresentar-se acantonada na defesa, e tentar a saída em ataque rápido, que é a nossa especialidade. Isto porque Ronaldo, Maniche e Figo são jogadores que actuam em progressão, e não na retenção e circulação da bola, onde a França tem mais argumentos. Viu-se contra a Inglaterra, em especial no prolongamento, que não sabemos jogar em ataque continuado. Mas para este tipo de jogo poderíamos ter Simão, que é bem melhor na procura dos apoios que Ronaldo. Aliás, o jogo com os apoios é a grande debilidade de Ronaldo, que tem de trabalhar mais para saber o momento de soltar a bola e ir buscá-la à frente.
Mora aqui a grande incongruência da nossa selecção. Pauleta é perigoso dentro da área, no toque final, mas fraco fora dela, e encaixa mal no resto da equipa. É a razão pela qual não marca um golo num jogo a sério desde o Mundial-2002. Para o nosso tipo de jogo, penso que Nuno Gomes combina melhor. É muito mais móvel e tem uma capacidade de remate de meia distância que o açoriano não tem.
Assim, a minha equipa para amanhã teria Tiago, Simão e Nuno Gomes no lugar de Costinha, Ronaldo e Pauleta. Não sei se alguma surpresa estará preparada para os franceses. Num Mundial tão óbvio, é bem provável que não.

Está a chegar ao fim o Mundial mais decepcionante que já acompanhei. Decepção, porque havia alguma expectativa depois de alguns campeonatos bastante fracos. Mas já não há grande volta a dar enquanto subsistir este modelo de competição. Ou se joga outro tipo de apuramento mais a sério para eliminar mais selecções, ou o Mundial passa a ser jogado em Dezembro, ou continua tudo como está, em nome do negócio e do circo, e teremos eternamente jogos miseráveis e equipas apáticas.
Têm de ter a palavra os clubes, que são os agentes que sustentam os profissionais da bola, mas que são sempre os prejudicados por estes campeonatos. O Benfica, por exemplo, vai jogar a pré-eliminatória da Liga dos Campeões com Quim, Petit, Nuno Gomes e (talvez) Simão com poucos dias de trabalho com os colegas.
Para quem gosta de futebol, não é bom ver jogos como o Brasil - França, os últimos dois campeões mundiais. Jogadores a arrastarem-se, ritmo sonolento, sem alegria e garra. Não é bonito ler que um fora de série como Ronaldinho foi considerado o fiasco do Mundial no seu país, ou que um dos melhores marcadores de livres de todos os tempos - Roberto Carlos - deixe a selecção brasileira em litígio com os adeptos, insultado pelos mesmos que o aplaudiam há pouco. Se queremos ver grandes jogos com grandes jogadores, algo tem de mudar. Ou arriscamos a ver a Grécia ganhar mais campeonatos.

Para quem ainda não tem o último disco dos Nouvelle Vague, vale bem a pena vir aqui ouvir algumas das canções do álbum que o site da banda disponibiliza. Tinha grande curiosidade em ouvir "Killing Moon", dos Echo and the Bunnymen, e "Bella Lugosi's dead", dos Bauhaus, e não fiquei nada desapontado (sobretudo com a segunda, que está extraordinária). A ouvir também as outras versões, "Heart os Glass", das Blondie, e "Fade to grey", dos Visage, ambas muito boas.

3 de julho de 2006

É curiosa mas também cómica a forma como os jogadores de futebol abordam a relação com a imprensa e com os adeptos. Os nossos seleccionáveis são autênticos casos de estudo. Parecem mesmo os desgraçadinhos da bola, os calimeros do chuto na chincha a quem o céu vai desabar na cabeça.
É curioso porque, sendo o futebol um desporto colectivo, poder-se-ia pensar que os atletas estariam psicologicamente mais resguardados deste problema. Afinal, nenhum jogador ganha ou perde jogos sozinho. Mas não; é sempre o mundo contra eles. E nestas aventuras de capa-e-espada, eles têm sempre de arrostar Adamastores, batendo-se heroicamente pelo reconhecimento da sua suprema valia.
O maior exemplo disto é o do nosso último herói de pacotilha, o homem dos frangos que defendeu 3 penalties. A história real é simples: Ricardo é um bom guarda-redes, que desde que se transferiu para o Sporting e ganhou a baliza da selecção, tem dificuldades em lidar com as críticas e com os adeptos. A não ser que tanto uma quanto os outros lhe sejam favoráveis; aí sim, vem ele, de peito feito, falar das "injustiças", da "perseguição" e dos "falsos amigos". Portanto, a a partir de hoje, e até ao próximo frango, o peru que Ricardo mamou contra o Lietchtenstein foi um "pormenor técnico", o golo da Udinese que arrumou o Sporting da Liga dos Campeões não existiu, e todos os outros pintainhos, pitos, perus e frangos desta época são pormenores. O que interessa é que ele deu "uma bofetada de luva branca" nos críticos e em quem "não acreditava nele".
Se fosse só o Ricardo, seria só cómico. Mas o vírus pega-se. E temos o Pauleta, que desde que chegou aos 40 golos, está sempre a comparar-se a Eusébio, mas a dizer que "só em Portugal não lhe dão valor"; temos Maniche, que "esteve sempre em condições, embora muita gente não acreditasse"; temos Miguel, a quem o malvado do presidente do Benfica queria obrigar a cumprir um contrato só porque ele o tinha assinado; e continua.
Assim, na cabeça deste moços, além de bem pagos, também deveriam ser bajulados e idolatrados sempre, quer jogassem bem, mal ou não jogassem. Pois. Presunção e água benta cada qual toma o que quer.

A certa altura no filme «Um Passeio pela História», de que falei aqui, Mitterrand diz qualquer coisa como isto ao jornalista que o acompanha: «sabe por que razão sou o político da esquerda que a direita mais odeia? É que eu vim de lá, eu vim da direita, e por isso sou um traidor para eles. Eles nunca me perdoarão.»
Pensei muito em Freitas do Amaral quando ouvi estas afirmações. Ele terá sido o único político português que fez o percurso da direita para a esquerda (já o percurso contrário foi feito por inúmeros políticos neste país e ninguém se escandaliza muito com isso) e por isso a direita portuguesa não o perdoou, fazendo-lhe a vida negra. Freitas também não terá sido muito hábil a lidar com a pressão, e a sua saída pareceu sempre inevitável. Seja como for é um político que admiro muito. Penso que daria um excelente candidato a Presidente da República.

1 de julho de 2006


Procura



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