Sempre gostei de filmes de cowboys. É uma daquelas paixões que me vêm da infância por herança de meu pai. Adoramos as cowbóiadas do Clint Eastwood e do John Wayne. Seduz-me a perspectiva moral de nítida separação entre o bem e o mal, entre os bons e os vilões. E isto nada mais é do que a mais primitiva alienação do real tão característica do bom cinema. Existirão outras razões para esta identificação - o facto de eu ser um americanófilo confesso e desavergonhado, por exemplo - mas esta será sempre a principal.
Por causa desta inclinação, estou sempre atento às novidades do género. Acontece que, já há bastante tempo e pela pena do Pacheco Pereira, apercebi-me da existência de uma série da HBO intitulada Deadwood. No entanto, a descrição da série deixava-me apreensivo e simultaneamente curioso. E foi o receio de um pretensioso rebuscamento artístico sobre o género que protelou a minha imersão no universo de Deadwood.
Mas o inevitável aconteceu e começei a visionar a série. E só me arrependo de ter dado ouvidos aos meus preconceitos e de só agora ter descoberto esta maravilha.
Walter Kirn do The New York Times escreve: "The latest attempt to resurrect the western by making it darker, stranger and, perversly, more contemporary, is HBO's new series Deadwood, which tries to do for frontier dramas what The Sopranos has done for gangster movies". E, mais à frente, acrescenta: "Deadwood is also America today in a crude and concentrated form". Sendo verdade, esta afirmação contém uma contradição insanável. Não estaremos tanto perante um western perversamente contemporâneo como perante um presente que persiste na perversão própria da história do western.
Esta identificação com o real continua com a amálgama de personagens (Wild Bill Hickok, Calamity Jane, Al Swearengen, Seth Bullock, Charlie Utter, George Hearst...) e localizações históricas (The Gem Theater, The Bella Union Salloon, Nuttal & Mann's Sallon e a própria cidade de Deadwood).
Mas o génio de Deadwood está nos seus diálogos escorreitos, brilhantes, profanos e nada gratuítos. Se apreciar profanidades como fuck, cocksucker ou cunt, esta série é para si. Está igualmente no génio dos seus actores, de cujo elenco destacaria Ian McShane, Robin Weigert, Paula Malcomson e Dayton Callie.
Uma experiência imperdível e altamente recomendável.

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