1. Radiohead - "In rainbows"
A palavra-chave em "In rainbows" é contenção. Nos anteriores registos havia espaço para a exuberância, mas aqui tudo aparace minimalizado, em ponto pequeno. Mas não confundam a modéstia com vulgaridade ou falta de ambição. Todos os ingredientes da poção mágica ainda aqui moram, só as doses são concentradas. Até nas canções já "antigas", como "Nude", que gravei num CD-pirata em 2001 para os meus amigos, nota-se a concisão e o trabalho minucioso de arranjo.
E as canções grandiosas sustentam a magnitude do álbum, especialmente a inicialmente-soturna-para-acabar-épica "All i need", o funk-para-almas-doridas "Reckoner" e a balada "Videotape", que fecha gloriosamente "In rainbows".
2. P J Harvey - "White chalk"
Depois de 15 anos a gritar angústias e histórias de desejo e carne, PJ Harvey parece cansada. A própria capa de "White chalk", o seu sétimo álbum de originais, traz um contraste gritante com o movimento de "Stories from the city, stories from the sea", ou o esgar de "uh huh her". Harvey está sentada, toda de branco e olha de frente para o ouvinte, como a interrogar "e então, percebes o que quero dizer?".
Não é fácil perceber. É preciso deixar que "White chalk" nos domine, porque as primeiras sensações são muito diferentes dos álbuns anteriores. Harvey canta como nunca cantou. Não há mudanças súbitas de ritmo. Em algumas passagens, até nos lembra figuras importantes (mas menores) da música pop, como Björk ou Joanna Newson.
É só realmente ao fim de algumas audições que se consegue perceber "White chalk", e realizar que a calma é aparente. O turbilhão criativo está lá e brilha intensamente. É um grande trabalho de PJ Harvey, tanto na composição como na interpretação de paisagens calmas na superfície, mas desafiadoras.
3. Beirut - "The flying club cup"
O drama do 2º álbum. "Gulag Orkestar" foi estrondoso, e apenas passado um ano, Zach Condon com mais um punhado de canções lacrimejantes, alicerçadas no legado pop das canções francesas aliadas ao fulgor dos bons tempos dos Tindersticks.
Mas, sendo um 2º álbum tão próximo ainda da inebriante estreia, chovem as críticas e os desentendimentos. Em parte têm a sua razão de ser. Condon facilita um pouco, e lá mais para o fim algumas melodias perdem a fluidez e o charme que caracterizam os Beirut. Mas isto em nada pode tirar o brilho de composições fantásticas como "Nantes" ou "Cliquot", nem obliterar a grande capacidade vocal e o talento nos arranjos.
4. Liars - s/t
Este álbum não deveria existir. Ou, pelo menos pelas regras douradas da música pop, uma banda não pode lançar duas obras de referência em dois anos seguidos. A não ser que as tenham gravado em simultâneo, ou que o segundo álbum seja uma continuação do primeiro. Só se forem génios. Pois é, a banda da década está aqui. São os Liars.
Depois de "Drum's not dead", ouvir um álbum dos Liars em 2006 deveria soar a gasto. Nem de perto. No quarto álbum, os Liars voltou a reinventar o seu som. É verdade, há pontos de contacto com "Drum..." e com "They were wrong, so we drowned", mas são as pistas para que se perceba que existe ali a "marca" Liars. "Liars" é outra coisa, completamente diferente. Durante a maior parte do tempo, seria como se os Mudhoney tentassem interpretar canções esganiçadas dos Sleeping Dogs Wake. Pop + grunge + industrial + dança aos berros = Liars. Perceberam? Se calhar não é de perceber.
5. Thurston Moore - "Trees outside the academy"
Os álbuns a solo são sempre objectos estranhos, muitas vezes destinados a dar vazão a tudo aquilo que o autor queria expressar, mas que os colegas da banda não deixaram.
Um álbum a solo de um guitarrista da banda que re-inventou o art rock deveria soar a quê? Guitarras destruídas? Barulhos metálicos? Gritos? Não se consegue descobrir aqui, porque "Trees outside the academy" soa a canções pop. E boas.
Em "Psychic hearts" (1995), Moore deu a entender que as canções dos Sonic Youth eram o seu território por excelência. Este álbum não o desmente. Em algumas passagens poderia ser o segundo capítulo de "Rather ripped", não fossem as surpresas plantadas por Thurston. Violinos, guitarras acústicas e uma calma que não se encontram nas aventuras conjuntas do quarteto fazem aqui aparições constantes e bem-vindas. Ainda melhor, Thurston desacelera o tempo pop para quase baladas encantadoras. Deve ser esta a ternura dos 50.
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