António Vitorino disse tudo, hoje na RTP, acerca da crise de liderança no PSD. Pelo menos na perspectiva do PS.
Manuela Ferreira Leite criaria problemas de convivência com o Presidente da República, de quem é discípula manifesta, - o que dificultaria a manutenção da postura independente e imparcial de Cavaco Silva. Depois de ter apoiado Mário Soares, Vitorino ficou subitamente preocupado com o bem-estar político de Cavaco e, - desinteressadamente, bendito seja, - avança com hipotéticas suspeitas de favorecimento político do PR em relação a um PSD presidido por uma sua acólita. Preocupação louvável que não demonstrou com Sampaio quando este disse que havia vida para além do défice para depois promover na sombra um governo socrático que teve como primeiríssima medida aumentar o IVA de 19% para 21% em nome dessa mesmíssima preocupação.
Manuela Ferreira Leite seria um retrocesso geracional na liderança do PSD, algo que não sucede com o PS por virtudes da liderança de Sócrates. A mulher seria velha e de outra geração. Insinua que seria uma solução antiquada para um problema novo. Consubstanciaria, segundo ele, uma liderança divorciada da nossa "modernidade". Vitorino despreza deliberadamente a vasta experiência política e profissional de Ferreira Leite e encara-a como ameaça. Em primeiro lugar, porque se apercebeu de que os portugueses estão fartos de promessas vazias e adiadas e de acções inócuas. Em nada convém ao PS que haja uma alternativa com conteúdo e substância; Finalmente, porque sabe que essas qualidades pessoais conferem-lhe uma credibilidade perante o eleitorado que um Sócrates desgastado pela governação e por polémicas com a sua formação académica não possui. E esta credibilidade, sendo algo que os anteriores líderes do PSD não possuíam, conferiria seriedade e consistência a uma alternativa política que hoje não existe.
Manuela Ferreira Leite seria, no exclusivo interesse do PSD - bendito seja o homem -, pior candidata do que Rui Rio. E isto apesar de confessar que a sua liderança obrigaria o PS a impor-se pelos seus próprios méritos e não pelos desméritos do principal partido da oposição. Acabaria o discurso da pesada herança social democrata. A "maior fraude política da era democrática" (o défice público de 6% em 2005) seria um argumento sem sentido (por falsidade) e como tal fora do prazo de validade política.
Tudo isto assusta António Vitorino e o PS. Ainda bem. Já vem é tarde. Esperemos que não seja tarde demais.

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