Depois do choque inicial da repressão chinesa aos independentistas no Tibete, ganha corpo alguma tendência que nasceu na Comunicação Social um pouco por todo o lado para fomentar uma ameaça de boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim.
Como parte da opinião pública que está a ser empurrada neste jogo, para mim é muito difícil ter uma opinião concreta sobre um eventual boicote.
Primeiro de tudo, qualquer acção que possa levar a que os chineses permitam aos tibetanos escolher o seu futuro deve ser incondicionalmente apoiada. Pelo que sei e tenho lido ao longo dos últimos anos, parece-me que o plano chinês para o Tibete é incentivar a imigração em massa, que dilua e progressivamente acabe com o desejo independista. É uma estratégia semelhante àquela que a Indonésia tinha para Timor-Leste. E que pode resultar. Não devem faltar tibetanos a apoiar os chineses, já que este plano trará sem dúvida desenvolvimento económico. O preço a pagar por ele é que pode não ser comportável.
Mas fazer com que esta acção passe exclusivamente por um boicote aos Jogos Olímpicos é duvidoso. Para que convencessem da sua bondade, eu teria de ver respondidas várias questões, como:
- como é que o COI entrega a realização dos Jogos Olímpicos aos chineses, que têm um historial recente de violações dos direitos humanos (Tiananmen foi em 1989)?
- no seguimento dos recentes incidentes, há algum país a pensar cortar relações diplomáticas ou comerciais com a China?
- tendo em conta que a situação no Tibete pode degenerar em situações semelhantes à do Kosovo, o que pensam fazer os países com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas?
Dado que estas questões não têm resposta, não posso alinhar em consciência com um boicote. Mas estou aberto a pensar sobre o problema, desde que existam mais dados para debater.
P.S.: A minha posição não tem nada a ver com o palavreado do PCP. Para dizer a verdade, eu nem sequer percebi bem a posição do PCP.

1 Comentários a “Pequim e o boicote”

  1. # Blogger Leandro Covas

    Estou de acordo contigo e também discordo de um boicote político aos jogos olímpicos. Por várias razões:
    Primeiro, porque não me parece correcto misturar política e desporto. O desporto é uma forma civilizada e valorada de competição, enquanto a política tem muito que,em comparação, a desaconselha;
    Segundo, porque não me parece inteligente ostracizar a China. As pretéritas relações entre esta e o Ocidente mostram, à saciedade, que não é lhe voltando as costas que os problemas se resolverão. Pelo contrário, a grande vantagem destes jogos "chineses" é mostrar à China as vantagens duma progressiva abertura aos valores ocidentais e democráticos. Esta campanha tendente ao boicote será contraproducente e fará mais estragos do que permitirá avanços. A China é um país milenar e tem o seu ritmo próprio. Ignorar isso é ser obtuso. A China chegará eventualmente às nossas conclusões por iniciativa própria e não por intermédio de ameaças; finalmente, o Ocidente é pródigo em incentivar os oprimidos a revoltarem-se para depois se resignar a pragmatismos estratégicos e políticos, votando os pobres desgraçados à sua sorte. Sortilégio que estes pagam com sangue. É isso que queremos?  

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