Este post é longo.
Obviamente não fui a Lisboa no sábado. Por vários motivos.
A nossa classe precisa da avaliação. Digo mais: só uma avaliação justa e baseada em critérios de qualidade pode restabelecer algum do estatuto que a profissão perdeu nas últimas décadas. A ausência de qualquer critério na apreciação do desempenho dos docentes levou-nos a este ponto. Os professores, enquanto classe, não são respeitados, nem pelo Governo, nem pelos alunos e Encarregados de Educação, nem uns pelos outros.
Têm dúvidas? Perguntem a um professor sério qual é a maior virtude dos Exames Nacionais. Invariavelmente a resposta será que os Exames Nacionais obrigam os professores a cumprir os programas e a serem rigorosos na avaliação. Não sou eu que o digo, é a generalidade dos meus colegas. Traduzindo, os professores pensam que é necessária uma avaliação externa aos alunos para garantir o que deveria ser garantido à partida: que os professores ensinem e avaliem com rigor.
Foi pela avaliação justa e de qualidade que os meus colegas se manifestaram no sábado? Alguns. Tal como em outras manifestações que apanham tudo pelo caminho, estiveram lá muitos "nãos" a este modelo. Não tenho qualquer dúvida sobre um dos "nãos" - uma parte muito significativa das pessoas que lá estiveram não querem avaliação nenhuma. Pretenderiam, isso sim, a manutenção do status quo que lhes permitiu irem trepando degraus por antiguidade, pura e simples. E este "não" foi o principal responsável por sermos obrigados a aturar uma Ministra mal-criada e que misturou trigo e joio.
E mais uma vez, não posso chegar a outra conclusão: há ainda muita gente nas escolas completamente alienada. Muitos colegas ignoram ou fingem ignorar que somos apontados a dedo como os funcionários públicos mais relapsos e que menos trabalham. Ignoram ou fingem ignorar que os nossos próprios alunos julgam que temos 4 meses de férias pagas por ano e que ser professor é um grande tacho.
No sábado tive a infeliz ideia de acompanhar algum noticiário relacionado com a manifestação. Os professores entrevistados, inconscientes da triste figura que estavam a fazer quando interpelados sobre os motivos que os levaram a marchar, não foram capazes de articular uma resposta digna. Uns enrolavam a língua, outros balbuciavam umas palavras de ordem. Pior ainda, quando a repórter atirou-lhes o isco envenenado do timming da avaliação, morderam todos - "sim, sim, o timming é que está mal". Tenho dúvidas que tenham lido o decreto que regula a avaliação. Ou que saibam o que é o timming.
E no fim desta longa lista sobram os sindicatos dos professores. Com muita pena minha, não vejo o que seria de esperar numa altura destas: propostas alternativas. Ora, interesssa-me muito pouco que os sindicatos ganhem providências cautelares e que façam arrastar o tema pelos tribunais. Senhores, os professores precisam de avaliação. Os sindicatos dos professores têm aqui uma grande oportunidade de, num momento de força, apresentar um modelo de avaliação melhor do que aquele que nos está a ser imposto. Vão fazê-lo? É óbvio que não! Não o farão porque esta fantasia da classe unida desabaria no preciso momento em que uma proposta de avaliação fosse negociada. E ninguém sabe melhor isto que os Sindicatos.
Por fim, se quiserem alguém para ajudar a discutir um modelo de avaliação exequível e que premeie o trabalho e o mérito científico e pedagógico, contem comigo. Se for preciso trabalhar para encontrar um modelo de gestão mais participado, estou lá. Mas para fazer número e agitar bandeirinhas, não. Nem pensar.

1 Comentários a “A marcha da indignação”

  1. # Anonymous Anónimo

    o que esta manifestação mostrou foi que a classe de professores é de uma mediocridade aterradora. o que mais me impressionou foi a total falta de capacidade de argumentar, de discutir, de apresentar as razões pelas quais cada um estava lá. os professores, à partida, deveriam ser os que estão mais habituados a utilizar a palavra, e, no entanto, pareciam jogadores de futebol.
    para mim, a vantagem deste modelo é a mudança de paradigma. pode não ser um bom modelo, pode ter muitos defeitos, mas, a partir de agora, já nada será como dantes.  

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