5 anos e um bilião de dólares depois, não há fim à vista para a invasão. Bush diz que "vai muito bem, obrigado".
Estimativas apontam entre 80 e 600 mil civis iraquianos mortos desde o golpe de estado. Por alto, são 10% do holocausto.
Para não me repetir, uma tira do Get Your War On.
9 Comentários a “Iraque - 5 anos”
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Para não cairmos em demagogias com números, resta saber quantas dessas baixas civis são resultado da guerra e quantas são vítimas da violência sectária entre os próprios iraquianos - que os americanos tentam impedir, sem grande sucesso, e pelas quais não poderão ser responsabilizados (a não ser que se preconizem critérios de responsabilidade objectiva desprovidos de quaisquer valorações éticas para dar lugar a considerações de pura oportunidade política).
Estes pormenores são importantes.
Leandro,
Essa não percebi. É óbvio que a grande maioria dessas baixas civis não foram provocadas pelos americanos. A responsabilidade não está aí. Está na própria invasão que criou o caos no Iraque. A violência sectária resulta disso. Quer concordemos, quer discordemos da invasão, isto é um dado objectivo.
Mário,
A guerra, e a consequente liberdade que daí adveio, permitiu -não provocou- que viessem ao de cima as tensões sectárias entre iraquianos. E a despreparação revelada pelos americanos demonstra que o burro do Bush não sabia no que se estava a meter.
Eu não defendo a guerra, condeno-a como um tremendo erro estratégico, político e militar. Mais: considero que veio fomentar e não combater o terrorismo.
Mas daí não posso aceitar demagógicas e veladas imputações de responsabilidade aos americanos com argumentos que utilizem a palavra "holocausto" como adoçante.
E, se quisermos ser justos, temos de reconhecer que a violência étnica que está por detrás deste conflito não é fundamentalmente diferente da que aconteceu no Kosovo ou recentemente em África.
E tens de reconhecer uma coisa: caso os iraquianos se entendessem estariam hoje livres de uma ditadura e a caminho da liberdade democrática. Os americanos proporcionaram liberdade e os iraquianos decidiram matar-se uns aos outros. Onde está a responsabilidade aqui? Com os americanos? Não me parece. A não ser que consideres os iraquianos uma cambada de inimputáveis a carecer de tutela.
Onde está a responsabilidade do Irão que alberga, treina e fornece armas aos militantes iraquianos?
Eu não posso aceitar os vossos critérios de imputação "objectiva" de responsabilidade e o credo segundo o qual "quando o corpo não tem juízo, os americanos é que pagam".
Por tudo isto, mantenho o que disse no primeiro comentário.
Viva,
Eu faço uma distinção clara entre responsabilidade e culpa. A coligação invasora não terá culpa que os iraquianos se atirem uns aos outros, mas este desfecho era tão previsível que não é possível deixar de lhes apontar responsabilidades. Se deixas uma arma carregada em casa e alguém se mata com ela, podes não ter a culpa, mas a responsabilidade é tua.
Fazes duas assumpções sobre o conteúdo do meu post que desvirtuam aquilo que pretendi escrever:
1 - Eu nunca escrevi ou disse que a responsabilidade exclusiva da invasão era ou é dos EUA. Aliás, revendo o que escrevi no blog sobre isso, nunca deixei de realçar o papel que tivemos. E também realcei que mesmo os países que recusaram a invasão pecaram por omissão e por inacção. Nem mesmo no post eu escrevo sobre os "americanos". A diferença é que Blair e Barroso meteram a viola no saco e assumiram que fizeram merda, mas Bush e Aznar continuam a dizer barbaridades, com a agravante de já ser público e assumido o desastre humanitário da guerra e as falsas bases em que foi lançada.
2 - A comparação com o holocausto não é, como é óbvio, uma tentativa de demonizar os agressores, mas de chamar a atenção para o flagelo pelo qual o povo iraquiano está a passar. 600 mil pessoas é muita gente, tenham eles morrido de qualquer forma. Sejam quais forem os interesses que motivam a campanha, estes números têm de ser ecoados para que isto não se repita.
Alex,
Quanto à distinção que fazes: é artificial e falaciosa. Não existe responsabilidade sem culpa. A não ser que se trate de uma responsabilidade objectiva assente em critérios de repartição de risco. E, ainda aqui, só intervirá a título subsidiário, ou seja, quando não for possível determinar uma responsabilidade a título de culpa. São critérios com assento constitucional.
A "responsabilidade" de que falas é algo de insubstancial e que, até tu mesmo, terás dificuldade em definir. Quanto a mim, e com certeza concordarás comigo, quererás significar responsabilidade política. E esta será determinada por considerações de oportunidade, sectarismo político e outras, eventualmente, com intenções menos benignas.
Mas ainda que aceites este critério como válido, tens de reconhecer que, para efeitos de combate à demagogia, convém repartir essas "responsabilidades": e, por isso e ainda assim, os meus argumentos mantêm-se válidos.
Quanto ao resto aceito-o com a maior facilidade. Daí eu ter iniciado o meu primeiro comentário com a locução "Para não cairmos em demagogias com números...".
Boa Páscoa para todos.
Post scriptum: o exemplo (da arma) que inadvertidamente usaste é um clássico "caso de escola" do Direito Penal que serve para justificar a responsabilidade penal daquele que deixa a arma carregada apenas quando houver culpa da sua parte (dolo ou negligência). E que servirá para fundamentar a minha posição e não a tua.
Leandro,
eu mantenho que há grande responsabilidade de quem invadiu. não são eles que matam mas foram eles que criaram o caos. mal ou bem, o iraque era um país estável; com a invasão deixou de o ser. quando se decidiu avançar para a invasão dever-se-ia ter pensado nisso. toda a gente sabia que havia grandes divisões étnicas e religiosas entre a população iraquiana; toda a gente sabia que havendo caos tudo o que é o terrorista dirigir-se-ia para lá.
a comparação com o holocausto não faz sentido nenhum e não penso que tenha sido intenção do Alexande comparar as coisas: apenas os números.
Este comentário foi removido pelo autor.
Mário,
Aceito que atribuas responsabilidade política - com todas as condicionantes e limitações que tal conceito encerra - aos americanos. Mas, coerentemente, exijo que a repartas por todos os "responsáveis".
Se a quiseres atribuir na totalidade e com exclusividade aos americanos, então perdes a razão. O que, com justiça, tu não fazes. Mas, por outro lado, ao aceitares sem mais e de forma plácida a associação do povo americano a esta tragédia humanitária, também daí retiras a necessária consequência e não repartes essa responsabilidade expressamente por quaisquer outros agentes, preferindo tomar a parte pelo todo.
Doutra forma, atribuir a parte de leão aos americanos é também um critério muito discutível. Primeiro porque desvalorizas a maior liberdade actual dos iraquianos; segundo, porque pareces condescender com a velha ideia "do mal menor". Como se a violência da ditadura de Sadam fosse de alguma maneira melhor do que a actual. Esqueces-te convenientemente dos milhões que morreram às mãos da ditadura anterior (em resultado de repressão política, étnica, da guerra com o Irão e da primeira guerra do golfo: tudo produto da demência de um ditador). É essa a "estabilidade" - inexistente, diga-se - que preferes?
A referida "estabilidade" só existirá se a tua análise abstrair dos interesses e direitos humanos do povo iraquiano para se concentrar em considerações políticas e militares de exclusivo interesse do Ocidente. E aí serás alvo de acusações de hipocrisia.