Anti-Exame #2 - Os Exames Nacionais amplificam e sublimam o carácter aleatório da avaliação sumativa.
Toda a avaliação sumativa (os testes, se preferirem) encerram uma grande dose de aleatoriedade. É porque pergunta-se x quando o aluno estudou y; é o enunciado que induz o aluno em erro ou é mal interpretado; e por aí em diante. Estes efeitos esbatem-se durante um ano lectivo completo, com 6 ou mais testes - mas é multiplicado num exame de 120 minutos.
No trabalho de projecto a aleatoriedade é mínima. Os temas são escolhidos e discutidos com os alunos; o professor ajuda-os a interpretar as questões. Todos os passos intermédios e resultados finais são debatidos. E o melhor (pensem nisso): num projecto, não há respostas incompletas ou perguntas por responder. Num teste, aquilo que o aluno não sabia antes, continua a não saber depois.
Como é que esta questão é resolvida nos nossos Exames Nacionais? É assim: os "fazedores de exames" criam um exame-tipo, e ano após ano, as perguntas variam ligeiramente, mas são sempre do mesmo tipo. Isto permite aos professores e, principalmente, aos explicadores, "treinar" um aluno para resolver um Exame Nacional que, em alguns casos, pode ser feito sem que o examinando perceba minimamente o que está a estudar. O exemplo mais extremo que eu conheço é dos Exames de Português, que relatei há um ano. Ou seja, os professores que querem fazer boa figura nos rankings deixaram de leccionar Português. Passaram a condicionar os alunos para a elaboração de resumos, a partir de uma série de regras memorizáveis e mecanizadas (mesmo que a pessoa não compreenda o que está a ler), e respondem a perguntas-tipo sobre obras escolhidas. Alguns, ainda mais especializados, tentam "adivinhar", recorrendo às obras que saíram nos últimos exames, o autor que vai calhar no ano em questão, e "apostam" tudo em duas ou três obras, mandando às malvas o resto do programa. Como é óbvio, o resultado final é aquele que se conhece: os nossos alunos do secundário não sabem o que é apreciar uma obra literária e não são capazes de escrever uma carta. (continua)
1 Comentários a “Manifesto anti-exames - Parte III”
Enviar um comentário
Digote meu amigo, tenho exame amanha, ou melhor, hoje já que já é uma hora. nao consigo dormir porque de fiizer merda, desculpem o termo, nao vou pra universidade. Agora pergunto-me: Que ensino é este? 120 minutos que podem artirar 3 anos pelo cano abaixo...mas ok......