"Resuma o excerto a seguir transcrito, constituído por trezentos e vinte e nove palavras, num texto de cem a cento e vinte e cinco palavras".
Este é um dos itens do exame de Português B, programa antigo, apresentado ontem aos alunos.
Há uns anos, verberava eu os exames nacionais na sala de professores da escola e dei como exemplo este item (que é igual todos os anos). Se não sabem, ficam a saber que os professores de Português gastavam tempo a ensinar aos alunos técnicas de resumo para qualquer texto. E tanto martelavam naquilo que tenho a impressão que um russo, chinês ou croata, munido das tais "técnicas", faria o resumo tão bem como os nossos miúdos.
E espantem-se quando um professor calmamente declara que muitos são os alunos que fazem a disciplina sem lerem uma única obra obrigatória, recorrendo a apontamentos, manuais e resumos. Afinal é para isto que nos empurrou a indústria dos rankings, dos exames nacionais e das explicações, três faces da mesma moeda.
E não se admirem ao saber que neste ano lectivo, ao contrário dos anteriores, cerca de 20% dos alunos matriculados não o vai concluir. É que os profs do 9º, fustigados no ano passado com relatórios, análises e ofícios ministeriais com a catástrofe dos resultados dos exames nacionais do básico, decidiram-se pela única solução possível para salvaram a face: não tens hipóteses no exame, chumbo-te já aqui, e não me vais baixar a média. É que o Estatuto da Carreira que aí vem já prevê a avaliação pelos resultados dos alunos...

2 Comentários a “Papagaios profissionais”

  1. # Blogger Mário Azevedo

    Se o aluno não está preparado para os exames, então deve chumbar, obviamente. Claro que um dia mau qualquer um pode ter e por isso é que os exames não são o único critério de avaliação. Agora, de uma forma geral as notas dos exames deveriam corresponder às notas atribuídas pelos professores. Por isso, aquilo que tu vês como negativo (o facto de os professores chumbarem um aluno por este não estar preparado para um exame) eu vejo como positivo.  

  2. # Blogger Alex

    Eu não disse que era negativo. Só noto a mudança de atitude em relação aos anos anteriores. E discordo quando dizes que um aluno que não está preparado para o exame deve chumbar, porque os exames não estão aferidos, ou seja, não estão preparados para os alunos. O aluno deve chumbar quando não adquiriu as competências básicas na disciplina em questão.
    O efeito perverso disto é a retenção excessiva no 9º ano, em contraponto com o facilitismo nos outros anos do 3º ciclo. É o que já acontece no secundário. Muitos miúdos serão empurrados do 7º para o 8º e para o 9º sem as competências necessárias e vão depois estar dois ou três anos presos no ano final do ciclo, e sem qualquer ganho real no seu processo de aprendizagem. Isto não foi acautelado nem previsto, nem remediado este ano. O Ministério fez um estudo, enviou dezenas de gráficos e questionários para as escolas, mas nada fez de concreto.  

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