Antes de tudo, gostaria de agradecer o convite que me foi endereçado pelo Alexandre e pelo Mário para participar neste blog. Confesso que me dá (e deu) imenso prazer esgrimir argumentos com ambos. Sendo este um blog de opinião, nunca se limitaram a debitar opiniões sem fundamento. E como sabemos, “opinions are like assholes: everyone has one”.
Mudando de assunto: o “chumbo” socialista dos projectos de lei do PCP e BE que visavam a atribuição do subsídio de desemprego aos docentes do ensino superior com vínculo precário à função pública mexeu no lodo e deixou-nos vislumbrar (mais uma vez) o caos que reina na administração pública. Curiosamente, concordo com os argumentos dos proponentes e oponentes dos referidos projectos de lei. É justo que esta classe de profissionais esteja protegida na eventualidade do desemprego. Digo mais: é um direito que lhes é reconhecido pelo Tribunal Constitucional. Por outro lado, faz todo o sentido discutir este problema no âmbito mais lato da anunciada reforma da administração pública.
O problema é que todos ralham com razão e, ainda assim, as situações eternizam-se. Os sindicatos apressaram-se a expor as suas razões. O Governo insiste em apelidá-los de forças de bloqueio, primeiro, e de retrocesso, depois.
A verdade é que o regime jurídico-laboral da função pública é um pântano que convém a ambas as partes. Os escassos esforços do sucessivos Governos para alterarem esta situação e a oposição férrea e permanente dos sindicatos apenas têm contribuído para um status quo confuso e caótico que garante vitórias eleitorais e o mote para a vida sindical.
Pessoalmente, não encontro razões para existirem regimes jurídico-laborais diferenciados para o sector privado e para o sector público. Ao assumir um vínculo laboral com um cidadão, o Estado não exerce qualquer poder de autoridade pública, não aparece em posição de supremacia. Por conseguinte, qualquer vínculo laboral deverá ser regulado pelo Direito do Trabalho e não pelo Direito Administrativo.
Por maioria de razão, a ética laboral assente em critérios como o mérito e o desempenho profissional aplicam-se com igual propriedade aos “funcionários públicos”. Julgo que os bons profissionais preferirão sempre esta clarificação em detrimento dos dúbios pressupostos da actualidade.
Resta-nos esperar a aguardada reforma da administração pública. Custa-me a perceber o porquê da demora e começo a duvidar das intenções do actual Governo. A entrada em vigor desta durante esta legislatura começa a revelar-se uma miragem.
3 Comentários a “Em público e em privado...”
Enviar um comentário
Se ainda fossem só os docentes do Ensino Superior, ainda não estávamos mal. Poder-se-ia tratar de uma anomalia do sistema, que se resolveria mais cedo ou mais tarde.
O pior é que são dezenas de milhares de funcionários que prestam serviço na administração pública com vínculos precários, constantemente ameaçados pelas "reformas" que vão saindo ao sabor da política dominante de cada governo. E que, ao arrepio até do bom senso, estão, em muitos casos, há mais de 10 anos nesta situação. E sem fim à vista.
Este comentário foi removido pelo autor.
a mim faz-me confusão que professores universitários, à partida os mais preparados e especializados funcionários públicos, tenham tanta necesidade de subsídios de desemprego. mas ok, têm tanto direito como os outros.