É verdade, Leandro. Eu sou bloquista. Um bloquista "des-afinado", mas sou. Eu sei muito bem que já não é in alinhar pelo Bloco, e também não sei se o Bloco é extrema-esquerda, mas nem um nem outro facto interessa muito.
Interessa-me mais acompanhar a transformação que a esquerda está a passar, e perceber como o foco do socialismo está lentamente a passar para o outro lado do trópico, de uma forma para mim um tanto ou quanto inesperada, se nos lembrarmos do Mundo há 15 anos atrás.
Aqui em casa, eu esperava que o processo de crescimento do Bloco levasse ao actual estado de coisas. É facto que o BE desnorteou-se nesta última legislatura. Não é mesma coisa ter 2 ou 3% do eleitorado, e levantar uma ou duas bandeiras, e passar aos 7% e ter de trabalhar com vista a uma possível governação a médio-longo prazo. Um exemplo é a actuação na campanha do referendo, que tem sido um desastre. Já era altura de Louçã perceber que o partido não pode viver de causas desgarradas e de fait-divers. Ou não percebeu ou ninguém lhe disse.
E por falar em governação, o Mário clamou pelo Senhor para evitar que um dia o BE chegue ao poder. Há uns anos atrás, o Mário disse-me que, no momento em que o BE fosse governo, os investidores abandonariam Portugal em massa e o país abriria falência. É curioso que eu tenha ouvido precisamente as mesmas palavras em 1989, no Brasil, ditas por Collor de Melo acerca de Lula. Não é exactamente o mesmo Lula que ocupa de momento o Palácio do Planalto, mas, tanto quanto sei, o Brasil continua no mesmo sítio.
Já percebem onde quero chegar? Acho que o BE faria muito bem em estudar a fundo a estratégia do PT brasileiro, que iniciou como uma central sindical, e em 20 anos ganhou a presidencia da república. E de permeio revelou que grandes pensadores podem conviver com operários e colocou uma mulher negra a governar o segundo maior estado da nação. E fê-lo sem permitir fenómenos populistas como Hugo Chavez ou Evo Morales.
4 comentários
Por Alex
às 23:37.
Interessa-me mais acompanhar a transformação que a esquerda está a passar, e perceber como o foco do socialismo está lentamente a passar para o outro lado do trópico, de uma forma para mim um tanto ou quanto inesperada, se nos lembrarmos do Mundo há 15 anos atrás.
Aqui em casa, eu esperava que o processo de crescimento do Bloco levasse ao actual estado de coisas. É facto que o BE desnorteou-se nesta última legislatura. Não é mesma coisa ter 2 ou 3% do eleitorado, e levantar uma ou duas bandeiras, e passar aos 7% e ter de trabalhar com vista a uma possível governação a médio-longo prazo. Um exemplo é a actuação na campanha do referendo, que tem sido um desastre. Já era altura de Louçã perceber que o partido não pode viver de causas desgarradas e de fait-divers. Ou não percebeu ou ninguém lhe disse.
E por falar em governação, o Mário clamou pelo Senhor para evitar que um dia o BE chegue ao poder. Há uns anos atrás, o Mário disse-me que, no momento em que o BE fosse governo, os investidores abandonariam Portugal em massa e o país abriria falência. É curioso que eu tenha ouvido precisamente as mesmas palavras em 1989, no Brasil, ditas por Collor de Melo acerca de Lula. Não é exactamente o mesmo Lula que ocupa de momento o Palácio do Planalto, mas, tanto quanto sei, o Brasil continua no mesmo sítio.
Já percebem onde quero chegar? Acho que o BE faria muito bem em estudar a fundo a estratégia do PT brasileiro, que iniciou como uma central sindical, e em 20 anos ganhou a presidencia da república. E de permeio revelou que grandes pensadores podem conviver com operários e colocou uma mulher negra a governar o segundo maior estado da nação. E fê-lo sem permitir fenómenos populistas como Hugo Chavez ou Evo Morales.
4 Comentários a “As des-afinidades partidárias e o socialismo tropical”
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Alex, se gostas de Portugal e de viver aí, não acoselharia a torcer para o BE estudar a fundo a estratégia do PT do Brasil. "Nosso Guia", alcunha que os jornalistas dedicaram ao nosso presidente é o maior engôdo de nossa história. Foi reeleito porque mesmo não tendo investido em programas sociais (o Fome Zero até hoje não saiu do papel) sustenta a barriga de inúmeras famílias com o programa "Bolsa Família", que hoje não procuram por emprego e preferem ficar desempregadas pk o benefício compensa.
Os investidores não sumiram pk ele manteve a mesma política econômica de FHC, juros altos, banco central controlando o dolar - e os economistas, empresários e analistas políticos agradecem á ele por isso - mas não houve crescimento em 4 anos de governo do PT. Esse ano ele lançou o PAC, que é outro engôdo, pk inúmeros projetos continuarão dependendo dos votos do Congresso e não há previsões e incentivo à educação, nem à projetos sociais.
Além disso, Nosso Guia gosta de afirmar que "nunca antes no Brasil..." houve tantas CPI's , aliás pk o Brasil nunca teve (todos dizem, não é uma análise pessoal) tantos casos de corrupção, nem um governo (do PT) tão corrupto, com vários representates da alta esfera do partido processados, perdendo o mandato e envolvidos em diversos escândalos que oneram os cofres públicos brasileiros e sua sociedade. Mas vivemos na América Latina e compreender como o povo se comporta perante este tipo de liderança é muito complexo, a nossa história em termos de ditadura, apesar de tão violenta quanto a vossa, tem raízes políticas, sociológicas e filosóficas diferentes. A última pérola de "nosso guia" foi a de que "amadureceu" e não é mais de esquerda. Lula É O PT, ninguém pode duvidar disso e vários fundadores do partido saíram há um ano desse PT e fundaram outro partido político o PSOL, pk a filosofia do PT dos anos 80, não existe mais. Além disso, nenhuma mulher negra governou no Brasil, Benedita da Sila, a Bené, foi prefeita do RJ, tendo deixado um rombo de milhões (comprovados) de reais que foram perdoados quando acabou seu mandato que coincidiu com o facto do PT já ser governo, e por isso, o governador do RJ, que também havia dando um rombo de milhões no estado foi também perdoado de sua dívida e o Rio está o caos, sem escolas e hospitais, sem nada. E não foi o PT que colocou Benedita na prefeitura, foi a população do Rio, que posteriormente nunca mais colocou prefeitos nem governadores do PT na nossa cidade. Deveria estar orgulhosa por ser mulher, mas não dá, política é política, feminismos á parte.
Acredito na esquerda, e desculpa-me a carta, mas acho que vcs por aí tem pouquíssimas notícias sobre o que realmente acontece no Brasil. E confesso, que teria votado no Lula no 1º mandato, mas meu voto ainda estava aí na embaixada e não pude votar. Estaria amargamente arrependida, mas ter acreditado também me deixa arrependida na mesma. A minha geração inteira acompanhou a tragetória do PT, sei do que estou falando.
Me perdoes pela "carta", mas não queiras que o BE aprenda muito com o PT, até pk, tenho motivos de sobra para amar Portugal.
um abraço,
um blog bacana e crítico sobre as notícias de nossos jornais, é o http://becodosbytes.blogspot.com
Caro Alexandre,
Antes demais, obrigado por te assumires. Fazes-me lembrar aqueles benfiquistas que até têm orgulho em serem benfiquistas! És bloquista. Já desconfiava, mas queremos sempre acreditar até ao fim que os nossos amigos não se desgraçaram. Resta-me levantar a cabeça e aceitar este pequeno desgosto. Afinal, a vida continua...
Agora a sério. Respeito naturalmente as tuas convicções, como sei que respeitas as minhas. Por isso é tão gratificante entrar em "dialogo" contigo e com o Mário neste blog.
Poderia discutir ideologicamente essa tua opção até ficarmos ambos roucos, mas não me parece sequer necessário. Apenas quero contrapor algumas considerações acerca do Bloco. Trata-se duma posição pessoal e SEI que não concordarás com ela. SEI, no entanto, que estarás interessado em saber quais são.
Primeiro, utilizar o PT como case study para o Bloco parece-me despropositado. Pelas razões que a Cris enuncia acima. Mas também porque o PT é um Partido de representatividade classista que chega ao poder num contexto geopolítico completamente diferente do nosso. Enxertar o actual contexto político brasileiro numa realidade portuguesa (e europeia) é um exercício em que chegaríamos rapidamente à conclusão que não existe analogia possível por as diferenças serem mais do que as semelhanças.
O problema do Bloco, além do que referes, é apenas ter mudado de roupagem e estratégia eleitoral. Ideologicamente nada mudou desde o 25 de Abril. Continua a defender os mesmos modelos políticos e económicos; aquele mesmo restrito núcleo de valores; a ser dementemente anti-americano e anti-capitalista; a atacar a iniciativa privada e os Belmiros de Azevedos deste país como que se eles fossem primos do demo de Chavez; a eleger a demagogia e a maledicência política como arma de arremesso preferida; a defender com sobranceria, arrogância e ,até alguma intolerância, as suas posições (a Joana Amaral Dias é um exemplo perfeito disso).
E mesmo que o Bloco se contorcesse todo e seguisse o teu conselho, eu continuaria desconfiado. Porque para ser verdadeira, esta evolução política do Bloco demoraria anos a concretizar. E em 33 anos tudo ficou na mesma como a lesma. Daí eu dizer que o Bloco continua a ser uma congregação de partidos de extrema-esquerda a viver o PREC. E daí eu dar 200% de razão ao Mário quando ele diz que, com o Bloco no poder, o país entraria em bancarrota.
Vejo que és um bloquista reformador. Desejo-te maior sorte do que aquela que coube aos reformadores do PCP. O mesmo é dizer que considero o Bloco de Esquerda um fóssil político cuja única função relevante é ser uma pedra no sapato dos políticos moderados. Incómodos, sim. Bússola moral, não!
Sinceramente, espero que o Bloco se transforme naquilo que desejas. Eu dormiria mais descansado.
Um abraço.
Cris, voltei a ler o post e algumas das frases não saíram exactamente de acordo com o meu raciocínio - que isto de tentar escrever posts não muito grandes obriga a cortar e nem sempre sai bem. Eu sai do Brasil em 1989 e não posso opinar sobre a política de governação do PT. O que eu elogio é a estratégia que levou o PT a ser capaz de romper entre os grandes partidos brasileiros e chegar ao Governo. E tens a certeza que a Benedita não foi governadora do Rio de Janeiro? Parece-me que foi.
Leandro, penso que te enganas quando afirmas que ideologicamente nada mudou desde o 25 de Abril. Aliás eu acho que é um tanto injusto cobrar o PREC aos partidos de esquerda e esquecer que as pessoas que mudaram de lado também lá estavam (Durão Barroso, por exemplo). Na minha visão, o BE é o partido que melhor defende o socialismo democrático em Portugal. Nos defeitos que apontas, tens razão, mas exageras na intensidade. Eu não sou anti-capitalista, mas anti-capitalismo sem regras. É diferente, não é? E diz-me porque é as atitudes de João Jardim ou de Valentim Loureiro não se colam ao PSD, mas os tiques de Louçã ficam logo associados a todo o BE? É só coincidência?
Eu não sou reformador de nada. Se aparecer outro movimento que esteja mais próximo das minhas ideias e ideais, o Bloco perde logo o meu voto.
Estás enganado, Alex! O PT nunca rompeu com grandes partidos. Em todas as eleições que Lula tentou ser presidente ele fez coligações com grandes partidos, inclusive com Leonel Brizola - já falecido - do PDT. O PT nunca foi capaz de governar sozinho, nem de se eleger sem apoio de outros partidos, vide o caso "mensalão", e na última eleição também teve apoio de gdes partidos. E quanto à Bené, estou certíssima, ela foi VICE-GOVERNADORA do Rio de Janeiro no governo Garotinho. Garotinho teve de sair do governo do Estado (conforme prevê a lei elitoral) para concorrer à presidência do Brasil e assim Bené assumiu - como manda a lei - o cargo de governadora, nunca tendo sido eleita para tal cargo. Ela foi, ok...foi, governadora, mas não pela grande força do PT, nem por ser mulher, menos ainda pelo voto popular, foi governadora por força das circunstâncias. ;)
abçs