Toda a agitação em torno do comício do BE com a participação de Manuel Alegre mostra que uma grande parte do nosso espectro político se rege com regras de lealdade que, à luz do que deveria ser a convivência democrática apregoada nos manuais é, no mínimo, estranha.
Ora, os partidos políticos não são clubes de futebol. Ninguém tem de concordar ou discordar em absoluto com os respectivos companheiros ou adversários de partido. Estas máximas são tão básicas que não deveriam sequer fazer levantar um sobrolho. Ao menos na teoria - na prática as questões são bastante diferentes.
A própria noção de que discordar pontualmente da linha orientadora do partido é "desleal" (Vitalino Canas) ou "imprudente" (Vitorino) é míope. Para não dizer que é uma visão redutora e, se levada ao extremo, deturpadora do que deveriam ser os princípios nos quais se baseia uma democracia. Eu sempre defendi que um bom consenso é uma média de opiniões diversas, não um somatório de vozes iguais. Se os partidos insistem nas "disciplinas de voto" e nas "hierarquias de opinião", desculpem, mas não é por aí que eu vou.

1 Comentários a “Aqui e agora”

  1. # Blogger Leandro Covas

    O que dizes parece-me correcto. Mas terá que haver sempre um limite a jusante. A discussão livre é salutar mas existe sempre um tempo e uma forma para exercer esse direito. Terá que haver uma "concordância prática" entre o seu exercício e a absorção indispensável do indivíduo pelo grupo onde este se integra. Um partido político será sempre algo mais do que a soma das suas partes. Tem vida própria. Assume rumos e estratégias que correspondem à vontade maioritária dos seus membros. Tolera a dissonância interna até ao ponto em que esta não ameace a existência do próprio grupo. A partir deste ponto estaremos perante um corpo estranho e não perante um membro responsável do grupo.
    O caso do Manuel Alegre é de excesso de ego. Considera-se um histórico do partido, guardião dos seus valores, condição que conquistou em lutas antifascistas. Tem tanto medo da irrelevância política que não se coibe em ser um constante espinho senatorial no sapato do PS.
    Na minha opinião, foi longe demais. Que decida, de uma vez por todas, se é ou não socialista. Porque, sinceramente, já começa a cansar.  

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