Impressionou-me o discurso do Presidente da República no 25 de Abril. Principalmente o inquérito que encomendou à Católica e que revela o desconhecimento e alheamento dos jovens.
Mas esta consulta, embora importante, falha porque não permite criar um ponto de comparação
significativo. Ou seja, sabemos que os jovens dos 15 aos 29 não se interessam pela política; mas e os jovens dos 29 em diante. A situação é diversa? O estudo não responde.
Outro ponto que deve ser revisto, e que se prende com o discurso de Cavaco, é que a grande parte da culpa do desconhecimento dos jovens é imputada às escolas. Só posso concordar em parte. A responsabilidade de transmitir o legado e a lembrança do 25 de Abril começa nas famílias. A escola deve ser um complemento e um reforço deste ponto de partida, mas não o pode substituir. Como é que queremos que os jovens atribuam importância a um acontecimento que pouco diz a muitos dos pais deles?
E como eu não sou só de ouvir, resolvi fazer hoje um dia de formação cívica com os meus alunos. De manhã falámos um bocado sobre o 25 de Abril e fiz-lhes as perguntas que foram colocadas a alguns jovens na passada sexta-feira, num telejornal. Se não se lembram, eram "Qual é o partido com maioria parlamentar? Quem foi o primeiro presidente democraticamente eleito depois de 1974? Quantos países compõem actualmente a UE?". À primeira questão apenas dois alunos responderam mal; três miúdos sabiam que tinha sido Ramalho Eanes o 1º presidente, embora outros quatro tenham respondido Mário Soares, o que não é absurdo; e apenas um falhou completamente o número de países da UE - os outros responderam 25 ou 27. Eu gostaria de aplicar este pequeno questionário a outros grupos etários para poder comparar as respostas. Tenho dúvidas se as pessoas da minha idade fariam melhor...
Esta discussão teve lugar na última meia hora da aula da manhã, e como eu tinha dois blocos de 90 minutos seguidos com eles à tarde, perguntei se queriam ver o "Capitães de Abril". Quase todos já o tinham visto, todo ou aos bocados, na televisão, e depois de algum debate, preferiam abordar outro acontecimento: o 11 de Setembro.
Assim, às três e um quarto, comecei por lhes mostrar alguns web sites relacionados com as conclusões da comissão 9/11 (o site da comissão, e na Wikipédia). Depois vimos o "Loose Change". Eu prefiro o "Fahrenheit 9/11", mas é demasiado extenso. E depois mostrei-lhes que existem também vários sites que tentam refutar todas as explicações avançadas no filme, especialmente este. No final discutimos como é que o 11 de Setembro se reflecte no nosso país actualmente. Acho que ficaram melhor elucidados dos efeitos que um acontecimento que aparentemente não tem nada a ver connosco no nosso quotidiano. Pelo menos foi um dia diferente e não estivemos só a falar de bases de dados e programação PHP.
Já decidi. Vou passar a fazer isto pelo menos uma vez por ano. Obrigado, prof. Cavaco!
3 Comentários a “Formação cívica”
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Alexandre, tenho a certeza se tivesses posto o questionário em frente aos alunos (tipo um ponto ou um exame), os resultados seriam bem diferentes. Lançar perguntas à turma inteira e responder individualmente a um questionátio, trás resultados bem diferentes.
K,
Escrevi as perguntas no quadro e os alunos responderam individualmente, por escrito. Pode ter havido alguma batota, mas antes já tínhamos conversado sobre participação cívica. Não deve ter sido muita.
Mostraste o Loose Change? Coitados dos alunos. Isso é uma aberraçao total.