Estive ontem indeciso entre escrever sobre as trapalhadas de Benfica e Sporting no fim de semana ou sobre a mais recente scolariada. Tão indeciso fiquei que deixei para hoje. E como indeciso continuo...
O estado de graça de Camacho e Bento só durou uma semana. No primeiro caso, de forma mais ou menos inesperada. Para Bento foi só a confirmação de que, este ano, só por milagre o Sporting estaria a lutar pelo título. E não fossem as inúmeras baldas, essas sim não previsíveis, do Benfica e já o 2º lugar estaria por um canudo.
O que não me cessa de supreender é o crédito que Paulo Bento ainda continua a ter. É o treinador português que mais tempo aguentou num grande sem mostrar arte nem jeito desde que me lembro. Qualquer outro que me recordo agora foi trocado com muito mais rapidez, e olhem, recordo-me de muita gente nos últimos vinte anos (Toni, Manuel José, Artur Jorge, Inácio, Fernando Santos, Jesualdo Ferreira, Couceiro, Peseiro, esqueci-me de alguém?). Para os mais esquecidos, na época que anteceu Bento o Sporting foi à final da Taça UEFA e perdeu o campeonato da penúltima jornada, na Luz. E, não menos importante, foi considerada a melhor equipa da temporada, em futebol jogado. Com Bento, nada que se pareça. Péssimo futebol, e resultados nem vê-los. Já perdi a conta às vezes que escrevi isto (já não faço links, escrevam "Paulo Bento" na caixa de pesquisa aqui ao lado), mas é espantoso que a direcção do Sporting insista nele.
Quanto a Camacho, o que há de fazer o espanhol? Das traves mestras da equipa, só Rui Costa tem correspondido. Petit está uma lástima, Nuno Gomes passou mais tempo aleijado que em campo, Katsouranis e Luisão só se fizeram notar por se terem pegado. Fernando Santos não podia fazer milagres depois de ver sair Simão e Manuel Fernandes de uma assentada, nem se deveria ter pedido o mesmo a Camacho.
Ah, Scolari. Quanto mais o acompanho, mais me convenço que está 30 anos atrasado como treinador, mas muito à frente como negociador. A tirada da "bunda grande" e do "desfile de modas" foi uma preparação para não convocar Miguel Veloso, que faz agora o papel que já coube a Maniche, Meira e Sérgio Conceição. Ou seja, sem justificação nenhuma nem lógica que se lhe veja, Scolari reforça o seu estatuto de "disciplinador" que, como é bem sabido e provado, lhe dá direito a fazer uns quantos disparates sem ser posto em causa. E bem precisa Scolari deste escudo, já que vamos vendo a repetição do filme de 2004 - uma equipa sem rumo nem ninguém que lhe ponha a mão, a desperdiçar tempo de preparação com partidas indigentes, para chegar à competição e apostar tudo na Senhora do Caravaggio. Em 2004 correu de forma excelente, porque havia o Porto na versão de campeão europeu. Agora não sei.
Se tivéssemos treinador, estaria a tentar resolver três problemas muito graves. Primeiro, na baliza, já que a falta de alternativas põe outra vez tudo nas mãos de Ricardo. O caso é que agora Ricardo já nem joga em Portugal, onde qualquer exibição mais ou menos conseguida chegava para apagar a data de asneiras habitual em cada jogo. E o espectro treal da descida de divisão do Bétis não deve fazer bem nenhum àquela cabecinha frágil. Segundo, o lateral-esquerdo. Scolari tinha problemas para chamar Antunes quando estava no Paços de Ferreira, mas agora o moço já está na Juventus e foi para os sub-21. À falta de alternativas, vamos insistir em Caneira? Outra vez? Por último, Deco está a fazer a pior época das últimas dez. Em vez de abaixos-assinados para chamar o Figo (que já não teria lugar), um seleccionador a sério deveria pedir a Rui Costa para fazer uma perninha. Nem que fosse para jogar só meia parte, ou então para alinhar à frente de Deco, com Maniche e Manuel Fernandes nas costas. Sim, eu não esqueci que Rui Costa deixou a selecção por não aceitar ser suplente de um brasileiro, mas que diabo!, Figo também disse adeus e voltou.
Mas não, nada disso. Sabendo de antemão que tem de levar uma quota de jogadores do Benfica ao Europeu para garantir as bandeirinhas e os favores da imprensa escrita e falada, convoca-se o Makukula e toca a pôr o moço a titular. Alguém de juízo acredita que Makukula vai tirar o lugar a Hugo Almeida no Europeu, salvo imponderáveis? Não, ninguém acredita. Mas de marketing, percebe ele. Pebolim é matraquilho...
2 Comentários a “Futebol”
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em relação ao Paulo Bento, o Sporting está a tentar mudar a política habitual dos clubes portugueses, que, mal as coisas começam a correr para o torto, tratam logo de mandar embora o treinador. parece-me bem. a comparação que fazes com o Peseiro falha numa coisa. O Peseiro ficou em segundo, mas num campeonato nivelado por baixo. Paulo Bento ficou duas vezes em segundo, alcançando muitos mais pontos. por outro lado, omites que a segunda época de Peseiro estava a ser tão desastrosa como a actual de Paulo Bento.
em relação a Camacho, parece-me que se os jogadores estão a jogar mal a responsabilidade tb é dele. cabe ao treinador potenciar o rendimento dos jogadores. seja como for, o Camacho precisa de tempo para afinar as coisas. ele é bom treinador, não vejo onde é que o Benfica pode arranjar melhor?
Não omito nada, Mário. Mesmo porque quem quiser pode verificar os dados. Só utilizei Peseiro como termo de comparação. Poderia ter utilizado Fernando Santos, no Benfica e a comparação também seria válida. Santos foi sempre contestado no Benfica porque é considerado um treinador demasiado permissivo e passivo, tal como Peseiro no Sporting.
É verdade que a 2ª época de Peseiro estava a correr mal, mas à 7ª jornada, quando foi despedido depois de duas derrotas consecutivas, o Sporting estava a um ponto do Benfica e a dois do Porto. Comparações com a época actual? É difícil fazê-lo, mas não vejo por que lado bento tenha feito melhor.