Ontem foi o último dia de trabalho da Dona Graça. Vocês não conhecem a D. Graça. A D. Graça era a chefe dos auxiliares de acção administrativa (para os mais velhos, empregados) da minha escola, a Secundária de Sá de Miranda, em Braga. Reformou-se ontem.
O Sá de Miranda era um Liceu Nacional, o que quer dizer que tinha um reitor nomeado pelo Estado Novo, que vivia na escola, assim como o chefe dos funcionários. Aqui, este chefe era o pai da D. Graça, que foi viver para a escola com doze ou treze anos. Ali trabalhou, casou e criou os filhos.
A D. Graça sabe perfeitamente o significado de ser funcionário - é uma pessoa que faz funcionar. Ela fazia funcionar o Sá de Miranda. De modo firme, mas não autoritário; eficiente, mas não automático; rigoroso e não inflexível. A D. Graça nunca deixou ninguém ficar mal. Não importava se era o sr. dr. que já fazia parte da mobília, ou o maçarico que subia as escadas de pedra, imponentes e austeras, pela primeira vez. Ela tinha tempo para todos, uma palavra amiga e uma graça para cada um. Não é uma pessoa de estudos, mas tem uma inteligência fina que sabia prevenir os problemas e prever as complicações. E nunca, mas nunca se lhe ouvia uma queixa, uma palavra azeda ou uma impaciência. Se alguém personifica a arte de fazer do pouco muito e com um sorriso nos lábios, era a D. Graça.
Ontem deixou-nos. Juntámo-nos todos na nossa sala, cantámos-lhe e oferecemos umas flores. Mas estamos todos muito tristes. O edifício frio que nos alberga é de pedra, mas aquela escola é de carne quente, e um bocado muito grande cessou de nos pertencer ontem. E ontem foi-se embora daquela escola a melhor pessoa do mundo.
Esta homenagem é um bocado tola, que a D. Graça não vai nisto dos computadores e muito menos dos blogs, mas ao menos, ao escrever isto, eu sei que a minha tristeza se espalha um pouco...
Muito obrigado.

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