Um argumento da série de televisão "Boston Legal" suscitou uma questão interessante. O caso ficcionado retratava o exemplo duma mulher que, com base numa atitude fraudulenta, praticou sexo oral com um homem, guardou o sémen num tubo de ensaio, depositou-o numa clínica de fertilidade e, de seguida, foi alvo de inseminação artificial que resultou em concepção.
A estória aparentemente absurda suscita uma questão polémica e interessante. Correndo o risco do assunto se transformar numa luta de género, parece-me que a questão dos direitos do homem na paternidade merece reflexão. Principalmente numa época em que a libertação da mulher parece querer, em alguns casos, retirar o homem da equação.
Não se trata só desta hipótese extrema retratada na série. Outra mais realista se pode por: até que ponto é que o direito da mulher em abortar (ou não) pode entrar em conflito com o direito do homem em ter (ou não) esse filho? É que fazer depender a decisão sobre o aborto exclusivamente da vontade da mulher coloca-nos, a nós homens, em risco de só sabermos duma hipotética gravidez após o aborto que a interrompeu ou até na mais completa ignorância sobre a sua ocorrência.
Como tutelar estes interesses?
Assim como me choca que o homem possa coagir uma mulher a abortar também agora me choca que os interesses do homem possam ser ignorados. Principalmente se a vontade for no sentido de ter a criança.
O assunto levanta questões muitos delicadas: a saúde e o corpo da mulher, por um lado, e os legítimos interesses e direitos dum homem envolvido numa paternidade responsável, pelo outro. E neste jogo de valores não me parece que qualquer direito ou interesse do homem deva tomar aqui absoluta precedência. Mas também não me parece justo e razoável deixá-los sem tutela.
Qualquer mulher dirá que estamos a provar do nosso próprio remédio. E isso talvez seja verdade. Mas tal não significa que seja o mais correcto.
Dilema complicado.
1 Comentários a “Paternidade”
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Vi o episódio tambem ontem. Embora partilhe das tuas preocupações acerca deste assunto, na realidade a mulher tem um poder que chega a ser perigosamente doentio junto da justiça norte americana. O episódio está bem delineado, mas na vida real nunca passaria dos 10 min. iniciais, porque mal o advogado acabasse os argumentos para a realização de um julgamento, o assunto acabaria ali ainda para mais sendo uma juíza.