Passaram 40 anos sobre a morte de Che Guevara. A aproximação da data deu azo a mais algumas releituras da personagem e da personalidade de "El Comandante", como seria de esperar.
Ao contrário do que se poderia supor, a crescente falência do regime cubano não descredibilizou a figura de Che Guevara. Provavelmente a iconização da personagem ultrapassou a dimensão real dos acontecimentos. Che representa hoje um ideal de não-conformismo, de crença em valores de liberdade, igualdade e solidariedade como talvez nenhum outro líder político. Os méritos e deméritos reais da sua actuação enquanto revolucionário já pouco devem dizer aos jovens que enfileiram nos representantes guevaristas de t-shirt.
Eu não cheguei, por força da idade que tenho, a alinhar nos guevaristas no meu tempo de adolescente, embora desde sempre as minhas afinidades políticas tenham puxado para ideais que se aproximam daqueles que teoricamente nortearam a revolução cubana. Conheci, no entanto, muitos jovens um bocado mais velhos que olhavam para Che como o supra-sumo do que seria possível a um revolucionário poderia almejar. E convém lembrar que cresci num Brasil mergulhado numa ditadura militar, pelo que não era pequeno o fascínio que Cuba nos provocava nem era de despreza a esperança que inspirava. Por isso tenho bem presente e marcada uma influência muito positiva e, porque não dizer, romântica das directrizes guevaristas, muito bem vincadas na linda carta escrita para os filhos, de que transcrevo a parte mais significativa:

"[...] Seu pai sempre foi um homem que actua como pensa e, com certeza, tem sido leal às suas convicções. Cresçam como bons revolucionários. Estudem muito para poder dominar a técnica que permite dominar a natureza. Lembrem-se que a Revolução é o mais importante e que cada um de nós, sozinho, não vale nada. Sobretudo, sejam sempre capazes de sentir no mais fundo de seus íntimos qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a qualidade mais linda de um revolucionário. [...]"

Os mitos não vivem por si, mas por aquilo que nos inspiram.

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