Seja qual for o resultado do referendo de amanhã, espero que o debate continue, mas centrado. Ouvi, até à exaustão, os argumentos de ambas as partes. Uns defenderam a “saúde da mulher” e o “direito da mulher à escolha”. Outros o “direito à vida” e os “direitos do feto”. Tudo bem. Mas parece-me que ficou por discutir o essencial: as causas do aborto e como combatê-las.

Se o anterior referendo for exemplo, parece-me que irá ficar tudo na mesma.

Ganhando o “não”, os partidários do “sim” farão questão em nada alterar a coberto da legitimidade da consulta popular. A iniciativa estará do lado do “não”. Os ganhos políticos estarão definitivamente à mercê dos partidários do “sim” que esperarão arrecadar pontos com cada processo criminal ou aborto clandestino com consequências de saúde para a mulher.

Ganhando o “sim”, temo que o tema continue descentrado. Encarar a vitória do “sim” como vitória política e esquecer o combate às causas do aborto parece-me o cenário mais plausível (também por ser o mais barato para o Estado). Competirá aos partidários do "não" serem vigilantes e cobrarem ao Estado o combate às causas do aborto (legal e clandestino).

Uma coisa é certa: ganhe quem ganhar, terão os vencedores sobre os ombros uma responsabilidade acrescida. O verdadeiro mandato que sairá deste referendo não será liberalizar ou descriminalizar (ou não) o aborto. Será combater as suas causas e proscrevê-lo a fenómeno residual.

Espero que todos entendam isto quando festejarem a vitória ou saborearem a amargura da derrota.

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