A Bia anda doentinha desde o Natal. Esta semana ficou pior, o que me obrigou a meter atestado e faltar três dias ao trabalho para tratar dela. Desde quarta-feira, deixei de ser professor e sou pai em full-time. Tive bastante tempo para pensar entre nebulizações e a nobre arte da elaboração de papa de banana. Até deu para ler o livro da Carolina, - em pdf - assunto que poderei abordar proximamente, quando não tiver mais nada para tratar.
Seis meses de experiência no cargo já me dão alguma autoridade para discorrer sobre o tema, e este(s) post(s) destinam-se aos homens - pais, aspirantes a pais e outros que ainda não pensaram nisso.
Existe uma conspiração silenciosa contra nós. É verdade, mas a culpa é toda nossa. As mulheres partilham fraquezas. Os homens só relatam as conquistas, as vitórias, as metas alcançadas. É assim em quase tudo, e a paternidade não foge à regra. Por isso, o futuro pai só pensa no que correrá bem, e não gasta um neurónio sequer a prever os escolhos que o caminho alberga. E depois, com o rebento nos braços, a olheiras tantas perguntamo-nos: "será que toda a gente sabe ser pai - menos eu?"
Eu desconfiei desde o início da fruta. As frases feitas e as promessas de paraíso eterno não me seduziram. Desde o início da gravidez comecei a conversar com outros pais - novos e menos novos - e a ler nas entrelinhas. E agora apresento, em primeira mão, um documento libertador. Sim, se já deste contigo a desejar que o tempo andasse para trás um ano, quando o filhote era só um projecto na tua cabeça, continua a ler. And the truth shall set you free.
Vamos então descodificar os mitos atribuídos à paternidade:

1º) Os filhos são a melhor coisa do mundo
Eu não acredito que exista nada que possa ser a melhor qualquer-coisa do mundo em termos absolutos. A Carlsberg só é a melhor cerveja do mundo para quem não adora Fosters. O Rio Ave só é o melhor clube do mundo para mim, e por aí em diante. Mas esta frase já deve ter causado mais pais angustiados que todos os aumentos de preço das fraldas descartáveis juntos.
Vamos ser sérios: os filhos são a melhor coisa do mundo? Depende: quando estão aos berros às quatro da manhã, sem qualquer motivo aparente, e já sabes que vais ter de acordar às sete, não são; quando queres ver o Gato Fedorento e o fedelho lembra-se que quer toda a tua atenção, não são; quando lhe queres dar uma colher de sopa, e ele cospe-te todo, não são. Nos outros momentos, pode ser que sim. Mas quando te passou pela mente entorpecida de sono comprar uma mordaça, atirá-lo pela janela ou trancá-lo na despensa, vai por mim - não foste o único. Aliás, se algum pai nunca pensou nisso, é anormal, ou não esteve tempo suficiente com a criança.

2º) É a cara chapada do pai
... ou da mãe, do avô, do tio, do vizinho. Vejamos: cara inchada, pele enrugada, vermelha... definitivamente os recém-nascidos não são sequer parecidos com gente, quanto mais com os progenitores. E eu aposto que se pusesse aqui fotografias de cinco bebés de seis meses, nem as pessoas que já estiveram com a Bia diversas vezes e que me conhecem há anos seriam capazes de a identificar com toda a certeza. A prova disso é que no berçário, onde estão com ela mais tempo do que eu todos os dias, já por duas vezes quiseram entregar-nos a bebé errada, e ela vem para casa com fraldas, babetes e roupa trocada dia sim, dia não.
(continua)
P.S.: A Bia já está melhorzinha.

1 Comentários a “Guia de sobrevivência para pais - I”

  1. # Blogger Eva

    Eheh, e pensava eu que era a única a não conseguir identificar essas supostas parecenças, que saltam à vista à maioria do comum dos mortais! Alívio!;)  

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