No post de sexta-feira, a minha ideia inicial não era falar sobre o aborto, mas sobre a tentação em que facilmente caímos - julgar todos os outros pelos nossos padrões morais e éticos. Isto é que me impressionou na história da Ashley.
O Leandro e o João Martins pegaram na minha deixa sobre o referendo e a organização "Não, Obrigada" para deixar o seu ponto. Muito bem. Vamos ver se chegamos a um acordo.
Vamos começar com o cartaz que juntei ao post. Leandro, não é má vontade. Tu és capaz de interpretar a mensagem. Acredita que 90% das pessoas que lêem o cartaz não sabem o que disse Correia de Campos nem são capazes de descodificar o texto. Por isso eu digo que a mensagem não quer esclarecer, quer confundir.
Os opositores da interrupção voluntária da gravidez tem argumentos sólidos. Digo mais: o argumento ético é irrefutável. Seja em que altura for da gravidez, um embrião ou feto será provavelmente um ser humano. As questões morais que envolvem a interrupção da gravidez não podem ser, de forma nenhuma, tomadas de ânimo leve. Por isso mesmo, se a única iniciativa for mudar a lei, também não estou de acordo. A interrupção da gravidez tem de implicar apoio / tratamento psicoclógico e planeamento familiar. À mulher tem de ser colocada a opção da adopção. O aborto não pode ser um método contraceptivo. Nisto estou convosco a 100%.
O Leandro pegou no caso espanhol, em que a lei é igual à nossa, mas deves saber que os médicos espanhóis interpretam-na de forma diversa. Na prática, basta que a mulher declare a intenção de não ter o filho para que o médico lhe passe um atestado a assegurar que a continuação da gravidez lhe põe em risco a saúde psicológica. Há aqui questões culturais que não mudam por decreto.
Todos concordamos que, num mundo perfeito, seria melhor não haver abortos. Mas em Portugal a lei da IVG é letra morta. E se assim é, ou ela passa a ser aplicada (o que ninguém quer) ou muda-se a lei. Eu vou pela segunda hipótese. Dividido? É claro que sim. Mas prefiro guardar as minhas convicções pessoais e não tentar impô-las.
Para acabar, todos os argumentos economicistas, dos dois lados da questão, não me interessam. Para mim isto é uma questão moral, não de contas. Nem é um problema de direita ou esquerda, como colocou o João. E também , como vocês, não gosto nada destas manifestações folclóricas a favor do sim que andam a chamar fascistas a quem pensa de outro modo. Dito isto, que venha o referendo que já estou farto desta gente toda (mas estou mais farto do Bagão Félix, lá isto estou).

4 Comentários a “Para reflectir - II”

  1. # Blogger Leandro Covas

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  2. # Blogger Leandro Covas

    Alex,

    Aceito os teus pontos de vista e até concordo. Eu apenas queria referir que a imagem reflecte uma ideia válida. Com a actual situação do Sistema Nacional de Saúde é mais do que certo que serão clínicas privadas convencionadas com o Estado a realizar os "abortos". Até porque qualquer governo irá querer manter uma distância saudável em relação a uma questão tão sensível. A questão não me parece ser economicista, mas de ordem moral. Aceito que quem levanta objecções morais ao aborto também as sinta quando sabe que aqueles são (também)pagos pelos seus impostos. Não concordas?
    Quanto à imagem, acredito que desempenha também um papel de choque e de desinformação. Mas o outro lado da barricada faz o mesmo (como tu bem ilustras no post) e, havendo igualdade de armas, temos que confiar no discernimento de cada um.
    Vejo que percebeste o meu ponto de vista quanto à bondade técnica da lei. Apenas referi este ponto para desmontar um argumento com o qual não concordo. Alterar a lei como se pretende é substituir uma boa solução técnica por outra má. E pergunto: não será também mudar por decreto questões culturais? Será que quem agora pretende referendar a lei pode garantir que fez tudo para mudar as questões culturais de que falas junto da classe médica e jurídica, psicólogos, assistentes sociais e público em geral? Será que referendar esta lei não é optar por um mal menor e uma admissão de derrota?
    Todas estas questões são válidas e merecem ser discutidas. Sem impor nada a ninguém.
    Um abraço.  

  3. # Blogger Alex

    Tocaste numa questão muito pertinente. Realmente eu acho que a alteração da lei é um mal menor. Mas o mal maior é o que temos agora, e algo tem de mudar.  

  4. # Blogger Leandro Covas

    O problema é que aceitar o mal menor é desistir, desresponsabilizar e não encarar de frente as verdadeiras causas do aborto. Enfim, voltar as costas ao mal maior...  

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