É bem certo e sabido que a inteligentzia nacional não gosta de futebol. Não gosta porque o futebol não é erudito e não se presta a retórica. Que mal ficaria a Saramago agitar uma bandeirita do Benfica no estádio da Luz, ou então ver Fátima Lopes a gritar "é penalti, cabrão" em Alvalade. Prontos - o futebol, cheira a povo.
E assim, o desgraçado do jogo fica entregue a folcloristas e caciques regionais que o vão empunhando como bandeiras de qualquer coisa - são os valentins, os pintos, os vieiras e os jardins que temos.
Agora, uns iluminados lembraram-se que os jogadores de futebol devem pagar à Segurança Social e às Finanças como os trabalhadores do regime geral; ou seja, acabou o regime de excepção. E a turba, a plebe que vibra com as fintas de Nani mas ganha 100 contos por mês exulta: é assim mesmo!
O que poucos discutem nesta altura é a razão pela qual os regimes de excepção existem: porque a carreira de futebolista é de curta duração e existe um alto risco de incapacidade profissional associada. Aliás, como existe numa série de outras profissões (militares, mineiros ou padres, por exemplo).
Eu estou inteiramente de acordo que os desportistas profissionais tenham um regime de excepção no que toca aos impostos. Mas não estou a pensar no Nuno Gomes ou no Vítor Baía. Estou a pensar nos jogadores da 2ª divisão B e da 3ª divisão, que, tal como a plebe, também ganham 100 contos por mês. E os profissionais do atletismo, do basquetebol, andebol, hóquei e outros.
É clarinho como água que o único proveito real que se extrai desta medida é político e de propaganda. Mas os clubes e jogadores que respondam na mesma moeda: quando houver medalhas e títulos, não há recepções em São Bento para ninguém!
E ponham os bancos a pagar impostos, sff.

0 Comentários a “O fim da excepção”

Enviar um comentário

Procura



XML