A meio do concerto, olhei à volta e convenci-me que tinha recuado pelo menos 15 anos. Olhando mais atentamente, reparei que os cabelos rareiam, as rugas sobressaem e as barrigas mostram-se por baixo das vestes negras. Não, o tempo não volta, mas os mestres estavam entre nós outra vez. E a fauna gótica, que julgava eu extinta algures no início da década passada, saudava-os outra vez.
Eu sou muito novo para ter a noção exacta do que representaram exactamente os Bauhaus. Apanhei-os no final da década de 80, quando a banda já não existia, mas estavam no activo muitas das bandas influenciadas por eles. E eram quase todas más. Os Bauhaus ficaram então num limbo, os iniciadores de um movimento que resultou menos bem. Em alguns momentos, assemelharam-se a estas bandas, quando o som não ajudava e as canções soavam irremediavelmente datadas.
Porém, há algo que não mudou: a voz de Peter Murphy, magistral e, se isto é possível, ainda melhor que há 25 anos; a magia de músicas como "She's in parties" - o primeiro momento de celebração, "Hollow hills", "All we ever wanted was everything" - com direito a coro prolongado e continuado até ao final do concerto, "Telegram Sam", e "Ziggy Stardust" - a catarse colectiva. Especial ainda a transmutação de Murphy - naqueles momentos que só é possível apreciar ao vivo -, incarnando um crucificado em "Stigmata Martyr", Ian Curtis em "Transmission" ou o próprio vampiro-mor em "Bela Lugosi is dead"- que encerrou a comunhão.
Ver os Bauhaus em concerto assemelha-se a rever aqueles tios de França que vinham à casa no Natal com caramelos e uma nota de cinco contos. Eles não são os mesmos, nós também não, mas foi bom encontrarmo-nos outra vez. Muito bom.

7 Comentários a “Bauhaus”

  1. # Anonymous Anónimo

    Alexandre, não havia uma fotografia dos Bauhaus mais horrivel do que esta para colocares neste post?

    Paulo  

  2. # Blogger Alex

    Infelizmente, havia.  

  3. # Anonymous Anónimo

    Sim Alex, o Paulo tem razão..esta FOTO é horrivel. "Quem vê caras,..não ouve músicas". Presumo que ainda tenho a t-shirt dos BAUHAUS em casa...não me serve claro!! hihihi (acho que a comprei em finais de 80. Tou a ficar velho!)

    http://umpardebotas.blogs.sapo.pt  

  4. # Blogger Mário Azevedo

    siceramente, sempre tive difuculdade em estabelecer qq relação musical entre os Bauhaus e o movimento gótico dos anos 80. eu sei que toda a gente a faz, mas não consigo ver nada que se assemelhe entre, por exemplo, os Mission ou os Field of Nephilim e o som dos Bauhaus. Quanto ao concerto, foi espectacular, foi pena o péssimo som.  

  5. # Blogger valter hugo mãe

    o concerto foi fabuloso - embora menos bom que o de há uns anos atrás, que foi transcendente.
    e tu devias levar coça velha por usares esta foto tipo boys band teenager  

  6. # Blogger Alex

    1 - Enviem-me uma foto melhor e eu troco.
    2 - Para mim é muito claro que os Bauhaus influenciaram decisivamente estas bandas que mencionaste e muitas mais, com expoente máximo nos Sisters of Mercy. Assim como os Bauhaus foram buscar os sons do glam rock e de David Bowie. Não há nada que surja do nada.  

  7. # Anonymous Anónimo

    Eu tb passei a gostar quando já não havia mais banda...
    Acho que não adianta se preocuparem com as fotos. Todas as foto tiradas perto dos anos 80 e nos anos 80 são fatidicamente horrorosas... visualmente, essa década foi um desastre fashion. :)  

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