Ontem mostrei, através de dados, que grande parte do que se escreve sobre a mudança dos resultados da selecção com Scolari é um mito. A interpretação dos dados deixa margem a subjectividade, como em tudo. Por exemplo, para mim é mais fiável e mais revelador da capacidade do treinador o desempenho durante uma fase de apuramento para uma grande competição, disputada durante um período alargado de tempo e em várias alturas da época, do que o atingido nas fases finais, jogadas em um período curto, e em que o resultado de um único jogo pode alterar completamente o cariz da presença da selecção. Quem não se lembra na bola no poste de Sérgio Conceição no último minuto do Coreia do Sul x Portugal?
Os outros mitos que alicerçam a convicção scolariana não são mais que boatos elevados à categoria de factos quando interessam. Por exemplo:
- "com Scolari não há indisciplina na selecção". Na sequência do jogo com a Espanha, Maniche, Meira e Conceição foram afastados. Porquê? E a cena dos copos e putas na Polónia, também foi um sonho?
- "Scolari acabou com a capelinha do Oliveira e do Porto na selecção". Oliveira levou 7 jogadores do Sporting e 4 do FC Porto ao Mundial2002 (fonte). Era essa a capelinha?
- "Scolari respeita os colaboradores e quem trabalha com ele". Os seguidores, talvez respeite. Eu não me esqueci que Scolari fez questão de divulgar a lista de convocados ao Record uma semana antes da data apenas para humilhar Agostinho Oliveira, que tinha dito dois ou três dias antes que estava convicto que seria informado da convocatória pelo seleccionador.
Não me interessa entrar em comparações directas para descobrir se Deco é melhor que Rui Costa ou Ricardo Carvalho é melhor que Fernando Couto, mas, na minha análise pessoal, se pusermos de um lado da balança os resultados de Scolari e dos antecessores e o valor dos jogadores que formaram as sucessivas selecções, parece-me que o actual treinador não fez pior nem melhor que Queiroz, Coelho ou Oliveira. Recebeu uma equipa forte e teve a felicidade de lhe acrescentar mais bons jogadores. Manteve a equipa forte e os bons resultados e esse é o seu mérito.
Entrando noutro plano de análise, discordo frontalmente de quem defende que o que interessa no futebol é o resultado. Se a vertente do espectáculo é abandonada, o que leva as pessoas ao estádio? Concedo que, para a populaça, os que gostam da selecção mas não apreciam um jogo de futebol, ganhar a Angola ou a Inglaterra seja o mesmo. Para mim não, de forma nenhuma.
Respeito a visão de Scolari quando afirma que só interessa ganhar. Respeito quem pensa como ele. Mas sejam coerentes. Não chamem as pessoas ao estádio para ver uma equipa a defender um empate contra a Finlândia, e não demonizem quem assobia os jogadores na pior exibição que já vi da selecção portuguesa.
Sejam honestos. É preciso muita lata e muita falta de chá para dizer no final do jogo de quarta-feira que "jogaram muito bem". O que, em boa verdade, só aconteceu de forma continuada desde 2003 durante o curto período que medeou o jogo contra a Rússia e a meia final contra a Holanda, no Euro2004. Muito pouco para mim. O resto foram fogachos, contra a Bélgica e a Rússia e uma meia dúzia de exibições vergonhosas (Liechtenstein, Angola, Arménia, Polónia, Espanha, Finlândia e mais umas outras).
Finalmente, porque é que penso que Scolari é o pior treinador que tivemos nos últimos 20 anos? Porque, além do pouco futebol que jogamos, é arrogante, mal-educado e ignorante. O episódio da conferência de imprensa de quarta é só mais de uma pessoa que se julga acima da crítica. Há uns tempos atrás escrevi que reconhecia mérito em Scolari na forma como se conseguiu fixar na selecção, à custa de estratégias de guerrilha, como o conflito que criou e manteve com o FC Porto, ou a forma como joga com o estatuto de Cristiano Ronaldo na selecção. Ou ainda a maneira inteligente como manipulou a opinião pública, transformando os assobiadores de Leiria em anti-patriotas que tinham de ser calado pelos aplaudidores do Porto. Mas agora tenho muitas dúvidas que seja Scolari a pensar nestas estratégias. Porque só um sujeito muito estúpido faz aquela figura com os jornalistas pela frente.
E concluo por aqui. Como agora a selecção entre em hibernação e Scolari vai de férias, espero não voltar a isto tão cedo. Não aceito e nunca me calarei enquanto continuarem a insistir que quem critica Scolari é menos português ou gosta menos da selecção. E começo a perceber que até os lambe-cus e os yes-man a soldo já (vejam "A Bola" de hoje) estão fartos de o aturar. Mas isso não é problema meu.
1 Comentários a “Viva Scolari! (II)”
Enviar um comentário
Lá se foi a regra dos posts pequenos!!!!