Estive particularmente atento à tragédia ocorrida em Silves com o agricultor que perdeu um hectare de milho transgénico.
E as peças do puzzle foram encaixando. Aqui ficam algumas:
1 - Alguns dias depois do incidente, um agricultor de Vila do Conde relatou ao Jornal de Notícias que também tem uma pequena parcela de terreno com milho transgénico, e que "o ensaio neste terreno é completamente financiado por uma empresa, o proprietário apenas cedeu a terra". Estranho. Então a mesma empresa (a Monsanto) financia um agricultor em Vila do Conde, mas não o faz com um de Silves?
2 - O propritário do terreno garante que "é disto que os meus filhos e mulher vivem. É a única fonte de rendimento. Se ceifarem este milho, eu morro à fome. Alguém tem de pagar este prejuízo". Passados 4 dias, o Ministério da Agricultura anuncia o apoio jurídico ao agricultor e revela que o prejuízo ascende a 3900 €. Hmmm, portanto este senhor está a dizer que a sua única fonte de rendimento ascende a um campo de milho que lhe dá menos de 4 mil euros... Se calhar deveria ter falado antes com o seu colega de Vila do Conde...
Toda a produção de transgénicos em Portugal é controlada pela Monsanto, a multinacional que criou e patenteou estas sementes. Já existem histórias curiosas envolvendo a Monsanto. Uma delas aconteceu no Canadá, no ano passado. Um agricultor que teve o seu campo indevidamente polinizado pelo milho transgénico de um vizinho que utilizou as sementes da Monsanto ficou impedido de vender a sua produção ou de retirar sementes do milho. É claro! Então se as sementes estão patenteadas...
Apareceram alguns cientistas a garantir que os OMG não fazem qualquer mal à saúde. Esperemos que não. É que, como estas sementes estão patenteadas, os únicos estudos conhecidos foram feitos pela própria Monsanto, que utilizou, porém, uma técnica diferente da habitual - testando apenas a toxicidade da proteína implantada no milho, e não a planta. Assim, os únicos testes independentes foram conduzidos com os alimentos disponibilizados para consumo humano - com resultados pouco animadores (aqui e aqui).
A acção destes "ambientalistas" teve pelo menos a virtude de criar um dossier sobre os transgénicos em Portugal. E se tudo isto que escrevi aqui foi o produto de leituras dispersas por uma pessoa que não é jornalista, então estamos bem precisados de quem crie este dossier!

6 Comentários a “Trangénicos, fora! dentro! sei lá!”

  1. # Blogger Leandro Covas

    Olá Alexandre. As férias foram boas? Espero que sim.
    Dois reparos acerca deste post:
    Primeiro, pareces querer levantar uma ligeira nuvem de poeira em torno das afirmações e das motivações do agricultor. Não estarás a querer transformar a vítima em vilão? O homem plantou esse milho para ganhar dinheiro. Independentemente do facto de ser a Monsanto ou não a subsidiar. O rendimento é dele, para colher ou perder. Segundo, apesar da "tragédia", não teceste comentários acerca da "acção" levada a cabo pelos "cereal killers". Apoias, condenas ou quê? Falemos dos transgénicos, mas antes temos que perguntar porque é que as instituições falharam e porque não foi aplicada a lei. De contrário, estamos a dizer que é legítimo a um qualquer energúmeno invadir a nossa propriedade para realizar uma qualquer "acção" de protesto só porque não concorda com algo. Não achas?  

  2. # Blogger Alex

    As férias foram porreiras. Fizeste falta em Paredes de Coura. Para o ano?
    Sem ironias, estamos a tratar uma questão que pode vir a ser um problema muito sério de futuro. E aqui não há inocentes nem vítimas.
    Quanto a este incidente, enquanto não tivermos todos os factos na mesa, o que de momento não acontece, eu tenho uma posição neutra. É que outro grande problema é que temos uma comunicação social que, na sua grande maioria, não questiona, só transcreve.  

  3. # Blogger Leandro Covas

    Este comentário foi removido pelo autor.  

  4. # Blogger Leandro Covas

    Estive em Paredes de Coura, mas só estive no último dia (fui para ver os Sonic Youth) porque regressei do Alentejo nesse dia.
    Desculpa, és neutro?! Só podes estar a brincar? Se um fanático de direita for a tua casa ou à de um teu amigo destruir a colecção de cd's porque acha que o rock é a música do diabo e faz mal à humanidade tu ficas neutro??! Agora tens de ficar. É que o fanatismo de esquerda não tem, ao contrário do que alguns pensam ou nos querem fazer pensar, nenhuma superioridade moral. Ignorância, violência e estupidez são isso mesmo em qualquer face do espectro. Uns maltrapilhos invadem uma propriedade privada, destroem bens, agridem pessoas e tu ficas neutro?! Porra! Quanto a mim, o que eles precisavam era de uma carga de porrada e passar pelos tribunais criminais. Afinal somos só um estado de direito quando interessa??? A imprensa pode ter os seus defeitos mas as imagens televisivas não mentem e não deixam margens para interpretação.
    No entanto, compreendo a tua longa digestão dos factos. Ainda estás a tentar racionalizar o equivoco, agora aparente, que é o BE. Desculpa que te diga, mas mereces melhor. És um gajo porreiro demais para uma traição destas:-))))  

  5. # Blogger Alex

    Já que insistes na mesma tecla, respondo-te por extenso:
    1 - Não sei onde é que foste buscar a esquerda e o BE para os meter ao barulho. E a questão do fanatismo, onde é que entra? Esta destruição de milho é um facto político? Estás a afirmar que os manifestantes eram do BE? Não percebo.
    2 - Foi destruída uma parte de um hectare de milho numa plantação de 51 hectares. Esta questão da "passividade" da GNR é treta de alguma comunicação social, porque os agentes que lá estiveram fizeram o que tinham de fazer: identificaram os responsáveis pela invasão e expulsaram todos os manifestantes, impedindo a destruição do resto do milho transgénico. Assim, mesmo o cálculo dos 4 mil euros do Ministério da Agricultura é exagerado, porque só foi danificada uma parte da cultura. Mas tu sabes isso tudo. O que acho estranho é que não condenes a cobertura à mentira de uma pessoa que vêm dizer que o estão a matar à fome e que ninguém se dê ao trabalho de rectificar a mentira. Isto é muito mais que um "defeito" da imprensa, isto é manipulação de factos, não sei se por preguiça, incompetência ou vontade de desviar a atenção da situação real.
    3 - O detalhe de saber se eu apoio ou condeno a acção é perfeitamente irrelevante para os factos que apresentei. Os vândalos ou maltrapilhos não costumam avisar a televisão quando vão realizar alguma acção ilícita. Estes avisaram, porque queriam marcar uma posição e trazer este tema para as primeiras páginas e aberturas de telejornais. Assim, a tua comparação com a destruição da minha propriedade privada é descabida.
    4 - Muito antes de saber se a lei foi mal aplicada, interessa-me discutir os transgénicos. Estudos independentes revelaram alterações das funções hepáticas e renais, na absorção dos nutrientes e no pêlo e mutações em ratos em laboratório sujeitos a organismos geneticamente modificados. Há efeitos na saúde pública que estão ainda por conhecer a fundo. Perante isto, a destruição de umas quantas plantas não me impressiona minimamente. Impressiona-me muito que eu só agora venha a saber que existem mais de 4 mil hectares de milho transgénico em Portugal, autorizados ao abrigo de regulamentações comunitárias que são, no mínimo, duvidosas. Impressiona-me muito saber que os agricultores vizinhos estejam sujeitos a ficar impedidos de vender as suas colheitas, por questões de patentes das sementes. Impressiona-me muito saber que a médio prazo, pode ser uma multinacional a decidir se Portugal pode ou não plantar milho ou soja no seu território, porque o milho nativo estará extinto e só as empresas têm sementes. É isso que eu quero discutir.  

  6. # Blogger Leandro Covas

    Fui buscar o BE ao Miguel Portas e ao facto do "porta-voz" estar convidado e depois "desconvidado" para participar, como orador, na festa política do BE. Miguel Portas é do BE, defende politicamente a "acção", logo posso honestamente deduzir que o BE está nisto até aos cabelos. Caso contrário, teriam repugnado a posição de Portas e não o fizeram.
    Ao contrário do que dizes, a GNR não fez o que devia e não cumpriu uma data de leis. Se quiseres, posso elaborar.
    Quanto ao exemplo dos cd's, basta portanto que eu anuncie aos media que vou a tua casa destruir a tua propriedade para o caso mudar de figura??? :-))) Basta querer marcar posição para excluir a culpa ou a ilicitude de um acto criminoso??? Eu não sei se o agricultor mentiu ou não. Tão pouco sei como calcular o preço do milho destruído(e estranho que tu saibas). Eu não faço distinções entre ricos e pobres ou entre pequenos agricultores e latifundiários. Para mim, crime é crime e o tratamento deverá ser igual para todos. Os ricos não são cidadãos de segunda. Mais: tomara eu que nós fossemos riquíssimos!
    Numa coisa concordo contigo: em discordar.
    Um abraço.  

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