Quando se começa a generalizar, o caminho para o atropelo ao bom-senso fica completamente escancarado. O que pode fazer um gestor nomeado se discorda da política da tutela? Duas coisas: discutir as opções com os reponsáveis ou abandonar o cargo. Dalila Rodrigues, ex-directora do Museu Nacional de Arte Antiga, escolheu uma terceira opção - criticá-los na Comunicação Social. Foi obviamente afastada. Mas então, se a senhora não concorda, como é que poderia implementar o modelo?
Vem o CDS-PP falar de "práticas estalinistas" e de "purga"; o PSD também quis entrar no barulho. Ponto um: na época pré-Grandes Portugueses, falava-se de "práticas salazarentas". É interessante observar a mudança taxonómica. Ponto dois: este caso não é, nem de perto nem de longe, semelhante ao caso Charrua e uns quantos que têm aparecido. Porque a colagem? pergunto eu. E ponto três: questão para o CDS e PSD. Então se um director regional de qualquer coisa discorda do Ministro, demitimos o Ministro?

4 Comentários a “Então, demitimos o Ministro?”

  1. # Blogger A. João Soares

    Bons pontos para reflexão. O diálogo de que tanto se fala e seria solução pacífica para tanto problema, é detestado pelos poderosos. Dialogar é colocar-se ao mesmo nível do outro e ter de aceitar que está disposto a concordar com alguns pontos de vista diferentes do seu. Isso, para os arrogantes, seria dar o braço a torcer, seria cair da cadeira, descer aos infernos, Deus nos livre! Antes a rotura.
    E, havendo rotura, fica aberta a hipóteses de arranjar emprego para o filho do amigo que há dias nos fez aquele favor e deseja um lugar bem pago!
    De parte a parte, de forma transversal, as coisas não são totalmente sérias em qualquer ta, em qualquer lugar, independentemente de quem está no Poder. Desgraça de país!!!
    Abraço
    Do Miradouro  

  2. # Blogger Leandro Covas

    Demitir o Ministro?
    Neste caso concreto, sim. Mas reconheço que a política não seria a melhor. No entanto, não se trata de uma escolha alternativa. O problema tem a ver com as nomeações políticas que são periodicamente feitas pelo PSD e PS para cargos da administração pública. O que eu gostaria que ficasse claro com estes episódios é o seguinte: primeiro, que todos os partidos têm boys para engordar e que, apesar do PSD ter a maior fama nesta matéria, é o PS que o faz às claras, sem vergonha e sem consideração pela competência de quem exerce o cargo; segundo, importa alterar este regime que confunde o caciquismo com a administração pública. O PS, na sua postura de moralidade com que tem atacado certas classes profissionais, ainda não se lembrou de impor a moralidade também aqui. Espero que o PSD o faça (diga-se de passagem que teve oportunidade para o fazer no passado recente e não o fez).  

  3. # Blogger Alex

    Tens razão, mas acho que o teu alvo não era este. Esta senhora, se não estava bem, demitia-se. Não há mais nenhuma interpretação neste caso.  

  4. # Blogger Leandro Covas

    Discordo. Porque não existe em Portugal uma coisa chamada "delito de opinião", nem tão pouco funcionalismo público significa estar alinhado com o regime. Esses tempos já eram! Uma coisa é expressar publicamente uma diferença de opinião. Outra é não colaborar ou sabotar o trabalho e a política dum determinado Governo. Ainda outra é não mostrar resultados ou ser incompetente. Tanto quanto saiba, a senhora não foi acusada de nada disso. Apenas de ter uma opinião diferente e a ter expresso publicamente. O seu afastamento foi a sanção por um delito de opinião. Inadmissível.
    Factor nesse afastamento foi também o conteúdo do meu comentário anterior. Existe a convicção enraizada nos partidos do círculo do poder que ganhar eleições é também ganhar um reconhecimento divino para nomear "boys" para a administração pública. Isto tem de acabar.  

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