No Brasil, nas regiões amazónicas e do Pantanal, quando uma boiada muito grande tem de atravessar um rio infestado de piranhas, os boiadeiros utilizam um truque. Numa zona mais acima do rio, fazem atravessar um boi velho ou doente, sozinho. Este boi é imediatamente atacado pelos peixes, enquanto os outros passam tranquilamente, mais abaixo, para a outra margem.
Parece-me que uma das causas da crise do PSD actual é a repetição desta táctica em tempo de eleições. Não vejo outro partido que tenha tido tantos bois de piranha. Apresentam-se, perdem e desaparecerem do cenário político. Vejamos: Fernando Nogueira, em 95, contra Guterres; Ferreira do Amaral, em 2001, contra Sampaio; e no último assalto, Fernando Negrão. Aliás, que me lembre, só dois candidatos do PSD perderam eleições em que jogaram para ganhar, nos últimos 20 anos: Cavaco Silva, nas Presidenciais de 96 e Durão Barroso, nas legislativas de 99.
Sócrates, ao arrasar a concorrência há dois anos, criou outro boi: Marques Mendes. Ninguém acreditou ou acredita que Mendes será um dia primeiro-ministro. Foi lançado para a liderança para cobrir a travessia do deserto até 2009, à espera de melhores dias. O problema é que a instabilidade foi tanta que ele nem chegou a atravessar o rio - as piranhas deram conta que havia pouca carne para trincar.
É claro que a repetição do truque tem custos. Os bois saudáveis não querem avançar - Sócrates ainda tem muito peso e 2009 é ali ao virar da esquina. Além disso, vai parecendo que o pior está a passar na via-sacra económica portuguesa. Serão os aspirantes a derrotados nas próximas legislativas que vão assumir o barco. Não é que isto seja mau de todo. Ferreira do Amaral é gestor da Secil e da Portucel. Ai, quem me dera a mim!

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