De um modo geral, acho uma estupidez tirar ilações nacionais de eleições autárquicas. Mas, de facto, estas intercalares parecem reflectir bem o panorama político português.
Temos a CDU e o BE estáveis, o PS em desgaste, apesar de vitorioso, o PSD em guerra civil e o PP entregue à bicharada. Mas o paralelo entre Lisboa e o país é sobretudo evidente no cansaço dos portugueses, tal como referi no post anterior. Este desgaste está a castigar os partidos de poder, como se pôde verificar pelo apoio eleitoral às propostas de candidatos (semi)independentes.
Este fenómeno dos independentes poderá ser episódico à direita, e ser ultrapassado rapidamente, mas já não me parece de igual modo à esquerda. Tanto Roseta, nestas eleições, como Alegre, nas presidenciais, reflectem algo muito mais profundo. O PS está a puxar o pano tanto para a direita que está a descobrir a ala esquerda. Existe um eleitorado socialista que se identifica cada vez menos com este Governo e que está cansado de não ver os seus votos reflectidos nas políticas dos sucessivos governos do PS. É isto que pessoas como Alegre e Roseta procuram explorar e penso que têm aí uma mina preciosa. A questão é: serão eles capazes de mobilizar este eleitorado? Para pena minha, julgo que não. São políticos que me parecem pouco preparados, com muita dificuldade em dar conteúdo ao discurso. O que é que eles pensam da Saúde, da Segurança Social, da Educação, etc? Não sei, nunca os ouvi dizer nada sobre estes assuntos. Também pode acontecer que não tenham interesse e que surjam outras figuras. Aguardemos.
Mas muitos perguntarão: então e o BE e o PCP? Ora o que eu já tenho dito várias vezes é que estes dois partidos não respondem aos desejos deste eleitorado insatisfeito. Para mim, o BE cometeu um erro gravíssimo ao encostar-se demasiado à esquerda, fazendo um discurso muito agressivo, a denunciar em excesso o espírito do PREC, de onde surgiu.

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