... levanta-se à esquerda: a abstenção do accionista "Estado" na Assembleia Geral da PT foi de uma hipocrisia inquestionável. O Governo e o Partido Socialista (que o suporta) prega aos ventos as virtudes do mercado de capitais e o seu dinamismo enquanto reveladores da vitalidade do nosso sistema económico e depois toma medidas que revelam os tradicionais complexos de esquerda contra o seu funcionamento.

A abstenção não passou de uma medida ataviada de independência e imparcialidade. Estou mesmo a ver os argumentos: a abstenção quis deixar funcionar o mercado, dando plena liberdade aos accionistas da PT para decidirem o futuro da O.P.A. da Sonae. Tretas.

O Governo sabia (ou tinha obrigação de prever) o resultado da votação, não só porque vários accionistas de referência tornaram público o seu sentido de voto, mas também porque conhecia o sentido de voto da Caixa Geral de Depósitos e a posição relativa de cada accionista. Defender que a abstenção era a única posição imparcial é uma tremenda falácia. O equilíbrio de accionistas não se verificava, pelo que a abstenção tem de ser encarada como um aval à manutenção da blindagem dos estatutos decidida por uma minoria de accionistas.

Mais: pugnou pela manutenção da “Golden Share”, à revelia da posição da Comissão Europeia.

Acreditar no funcionamento do mercado de capitais seria vetar a manutenção da blindagem dos estatutos, não permitir que uma minoria decidisse o resultado da O.P.A. e, principalmente, permitir que todos os accionistas definissem a sua posição no mercado (vendendo ou não as suas acções).

Há que retirar desta atitude todas as consequências políticas. Talvez agora os empresários percam as ilusões que tinham acerca do Eng.º Sócrates;

… e adensa-se à direita: o regresso de Paulo Portas às lides partidárias, preocupa-me. Não pelas razões jocosamente apontadas pelo Mário. Todos nós temos o direito de mudar o nosso pensamento e os nossos projectos consoante a etapa da vida em que nos encontramos. Dizer o contrário seria admitir, por exemplo, uma vinculação perpétua e assustadora aos idealismos da adolescência. Admito que existam momentos definidores da personalidade, mas não da existência. O único pecado de Paulo Portas foi dizer “desta água não beberei”.

O que me preocupa é que esta tentativa de “reabilitação” política se estenda ao único Partido da oposição com vocação governativa – o PSD. O verdadeiro pesadelo seria ter de escolher novamente entre o Sócrates e o Santana Lopes . Deus nos livre.

0 Comentários a “O nevoeiro...”

Enviar um comentário

Procura



XML