"Queres vir comer um caldo verde?" foi como a Carla encerrou uma conversa telefónica à hora do almoço. Obviamente recusei.
Deixem-me ser claro. Sopa não é comida. Nem é bebida. É qualquer coisa no meio-termo, incapaz de definir para que lado pende. Que seja alimento para bébés sem sabor e velhotes sem dentes, aceito. Ainda que seja sustento para quem não tem mais nada que trincar, como me contaram meus pais e avós sobre os tempos da outra senhora, vá lá.
Por isso, assisti com preocupação à instalação da mania das sopas e respectivas lojas, que se deu há uns anos. Mas pensei cá comigo que, como os tamagotchis e a música disco, era mais uma - aparecia, levava a populaça atrás e morria. É com estarrecimento que verifico que não só não desapareceu, como alastrou. Não haverá hoje tasco ou café, por mais respeitável que pareça por fora, que não ofereça um liquído deslavado de mais que duvidosa origem. E o pior - há quem goste.
Ora, gostar, ainda estou como o outro. É uma fraqueza de caráter. Como ver a Floribella ou passar as tardes de domingo num shopping. Reparem que a estas actividades dedicam-se sobretudo as mulheres. É natural que Deus Nosso Senhor, na sua infinita sabedoria, lhes tenha tornado mais agradáveis à vista para lhes tirar de outro lado. É o equilíbrio natural das coisas. E reparem que a maior parte dos utentes das lojas de sopas são do sexo feminino. Coincidência? Não acredito.
Mas, como dizia, gostar ainda se pode perdoar. Há sempre a desculpa da dieta, da comida saudável, ou outro disparate equivalente. Mas conheço gente a quem até atribuía alguma consideração, a declarar em público preferir uma malga de água fervida com um bocado de erva a boiar a umas tripas bem temperadas, a uma picanhazita na brasa ou um bacalhau a brás. Aí não, mil vezes não. Perdi logo o respeito por estes indivíduos. Instantaneamente. E eu quero a minha comida coada, s.f.f.

0 Comentários a “A tirania do caldo verde”

Enviar um comentário

Procura



XML