No domingo, o Jornal de Notícias anunciava, em grande manchete: "Faltas de professores baixam para metade". Na "notícia", dizia-se que o Ministério acredita que as aulas de substituição deram "um poderoso contributo para a quebra do absentismo dos docentes".
Primeiro, reparem que a ligação estabelecida entre o suposto menor número de faltas dos professores e as aulas de substituição são apresentadas de forma a fazer parecer que isto é uma vitória do Ministério. Depois, tanto o título, como esta ligação, são absolutamente falsos.
As faltas baixaram sim, mas porque os professores, desde Setembro, podem fazer permutas. Ou seja, se eu sei que amanhã não posso leccionar uma aula, peço a um colega que vá no meu lugar e depois reponho a aula. Assim, não temos falta. Nos dias em que estive em casa a cuidar da Beatriz fui substituído desta forma e estou a repor as aulas agora. Não tive qualquer falta às aulas, e os alunos não tiveram "furos". Mas o jornalista que fez a peça "esqueceu-se" deste detalhe.
Mais, esta opção de permuta já é praticada nas escolas profissionais desde sempre, e os professores do Secundário há muito queriam adoptar este sistema. Mas o Ministério nunca havia permitido.
Quanto às aulas de substituição propriamente ditas, que só são aplicáveis quando o docente falta sem avisar previamente, ainda não vi em lado nenhum o elogio ao trabalho que tem sido feito nas escolas. na minha, por exemplo, se falta um professor de matemática, Economia ou Direito, só para citar alguns exemplos que conheço, não há qualquer problema. Os professores dos respectivos departamentos organizaram-se nas férias de Verão e do Natal e criaram dossiers com fichas de trabalho e projectos individuais para todos os anos, com todas as matérias do programa. E não são repetições dos testes. São fichas diferentes, com exercícios adaptados dos Exames Nacionais. Se algum dos colegas falta imprevistamente, basta ir ao dossier, fotocopiar a ficha adequada e em 5 minutos os alunos estão a ter aulas.
No meu caso, nem sequer isso é necessário. O meu Departamento assumiu a política "sem papel" para este ano lectivo, e todas os projectos, fichas e exercícios são colocados na rede informática da escola. Para a minha disciplina, criei um website com os apontamentos, apresentações e projectos. Assim, se me furar um pneu no caminho, basta-me telefonar para a escola e dizer a um colega que ponha os alunos a trabalhar, sem problemas nenhuns.
Já leram isto em algum lado? Acredito que não. Mas já devem ter lido não sei quantas vezes que os professores são uma cambada de malandros, que faltam por dá-cá-aquela-palha. Sabem o que me apetece fazer quando vejo títulos como o do JN de domingo?

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