Já não tenho palavras para comentar o que se passa no Líbano. Há quase um mês o país é assolado por atentados terroristas que não dão sinais de parar. E há um mês toda a comunidade internacional permanece acocorada à espera que o estado terrorista israelita por um lado desista de massacrar o povo libanês, ou que Bush dê ordem de parangem a matança. Que comentários poderemos nós fazer numa situação destas? Quando o líder de uma organização terrorista (para que não haja dúvidas, falo do Hezbollah) tem um discurso mais coerente e até, passe o exagero, sensato que os generais ou Rice, estamos conversados.
Aqui na terrinha, o CDS declara que o Estado português deve apoiar o estado terrorista, que se está a defender de uma agressão.
10 comentários
Por Alex
às 21:54.
Aqui na terrinha, o CDS declara que o Estado português deve apoiar o estado terrorista, que se está a defender de uma agressão.
10 Comentários a “Líbano”
Enviar um comentário
Dizer que o Estado de Israel é terrorista é de uma enorme irresponsabilidade. Respeito a tua opinião mas confesso que este tipo de declarações me deixam assustado. Deixar que a tradicional divisão política entre a esquerda e direita tolde a realidade não me parece aceitável. Não sei se é esta a tua motivação, mas certamente será a de muitos que defendem a mesma opinião.
Não nos esqueçamos que Israel, enquanto Estado soberano, tem sido um país a quem a guerra lhe foi imposta desde o minuto zero da sua existência. Após a aprovação pelas Nações Unidas da resolução que instituiu o Estado de Israel(impulsionada pela antiga Inião Soviética, pasme-se...), imediatamente três países árabes lhe declararam guerra.
Israel está efectivamente a defender-se contra organizações terroristas e outros Estados que não reconhecem o seu direito (internacional) a existir. Está a defender-se contra a ineficácia do Direito Internacional e contra a fraqueza do governo do Líbano para erradicar o Hezbollah do sul do seu país. Está a lutar contra uma organização terrorista que se escuda atrás de civis inocentes para depois pavonear os mortos na televisão e influenciar as opiniões públicas. Apesar da sua superioridade militar, está a travar uma guerra desigual contra individuos que não valorizam a vida humana.
Acredita que se Israel fosse um Estado terrorista como afirmas já não haveria guerra no Líbano e o número de mortes civis no Líbano seria muito superior.
O Hezbollah atacou e raptou um militar israelita. O Hezbollah escolhe intencionalmente alvos civis (árabes e judeus). O Hezbollah luta pela erradicação do Estado de Israel e pela instituição de um Estado Islâmico fundamentalista e teocrático.
Nesta guerra, admito, ninguém tem as mãos limpas. Mas convém fazer, no mínimo, distinções de grau e não meter, de forma redutora, tudo dentro do mesmo saco. Também não convém esquecer que Israel é um país democrático e o único representante dos nossos valores judaico-cristãos nesta parte do mundo.
Abomino a guerra e compreendo os impulsos emotivos contra Israel que possam surgir. Mas não compreendo porque ainda não escreveste uma palavra a condenar o Hezbollah. Mesmo sabendo que não apoias o Hezbollah, assusta-me e deve-te fazer pensar pois, na prática, significa que a propaganda e a desinformação do Hezbollah está a funcionar: desvia a atenção dos seus intuitos funamentalistas e terroristas ao mesmo tempo que "demoniza" Israel.
Dá que pensar não dá?
Viva,
1 - Não sei bem com o que queres dizer com a divisão entre direita e esquerda neste caso.
2 - A definição de terrorismo dos dicionários é "prática de actos violentos (assassinatos, raptos, colocação de bombas) contra um governo, uma classe dominante ou pessoas desconhecidas, com o objectivo de fazer impor determinados objectivos geralmente políticos". A definição que leva o crivo dos Estados Unidos e da União Europeia acrescenta no fim "...desde que não sejam praticados por nós ou pelos nossos aliados". Não sei como é que qualificas o rapto de estrangeiros sem acusação formada para os atirar em Guantanamo; ou a acto de arrasar casas (com gente dentro delas) na Palestina em retaliação aos atentados; ou os bombardeamentos massivos de civis, pontes e estradas no Líbano. Eu chamo-lhe terrorismo.
3 - Quanto às questões políticas, o Líbano e a Palestina são Estados democráticos, e isto não impediu e não impede as invasões e os massacres israelitas. E os valores que eu defendo, sejam eles de que matriz forem, não incluem destruir prédios de habitação.
4 - Por fim, a questão de condenar o Hezbollah não se põe. Ninguém pode apoiar uma organização terrorista. Mas neste ponto, tanto Israel como o Hezbollah estão nas tintas para as populações civis. Querem é defender interesses. Mas se ninguém defende o Hezbollah, como é que pode haver quem defenda Israel?
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
1 - A divisão esquerda/direita é manifesta. Repara nas declarações políticas em Portugal. Compara a reacção entre as declarações do CDS com as reações do PC e do Bloco de Esquerda. A história tem destas coisas. A criação de Israel começou por ser apadrinhada pelos soviéticos contra os interesses dos ingleses e com a indiferença dos americanos. Hoje, Israel tem os americanos e os ingleses como seus principais aliados. O espectro da esquerda (incluindo a portuguesa)proclama e braceja contra Israel, o tal Estado terrorista amigo dos imperialistas americanos que, apesar de muitos defeitos, são dos poucos a pagarem com sangue a manutenção de uma ordem mundial que é a nos interessa aos dois - democratica e livre. Esta atitude indignada da esquerda apenas fica bem a quem possa se dar ao luxo de a ter: quando é a existência do nosso país que está em causa estas divisões não existem - como acontece em Israel.
2 - A definição que referes não se aplica. Israel não pretende impor quaisquer objectivos políticos à Líbia ou à Palestina. Israel ficaria satisfeita com os termos de direito internacional que criaram o seu Estado e que determinaram que a Líbia deveria impedir que o Hezbollah utilizasse o seu território para a atacar. O respeito pelo direito internacional será, em última instância, imposto pela força militar. Além disso, será a definição que apresentas a mais adequada a uma nova ordem mundial que tem que lidar com bombas em autocarros, comboios, metros e aviões? Será a mais adequada para responder a uma luta que os radicais muçulmanos pretendem que seja civilizacional?
Repito, estamos perante uma luta desigual em que uma das partes tem de cumprir regras estritas e a outra não. E o meu alerta vai no sentido de que corremos um sério risco de a perder se não soubermos adequar a nossa resposta e os nossos valores às novas agressões sem perder a matriz cultural que nos define. E mais uma vez o ónus da dificuldade recai sobre o ocidente. O Líbano e a Palestina são Estados democráticos que apoiam, ou pelo menos permitem, agressões militares contra um Estado vizinho. A última vez que vi, isto violava o Direito Internacional e justifica uma resposta armada por parte do agredido. E falar neste contexto em alvos civis é uma anedota. Como podes falar em civis quando crianças e mulheres se fazem explodir dentro de autocarros ou quando estas explosões matam indiscriminadamente crianças, mães, idosos, pais de família e bebés? Como podes falar em prédios de habitação, escolas ou hospitais quando o Hezbollah faz deles o seu centro de operações ou deles dispara mísseis?
A guerra é desumana, é certo. Mas como farias tu uma campanha militar humanitária? E se as bombas estivessem a explodir na linha do metro entre a Póvoa e o Porto ou nos centros comerciais de Braga porque a Galiza não reconhecia a independência de Portugal? Defenderias, neste caso, a subjugação do político pelo humanitário?
Leandro, acontece que Israel mata sempre muito mais, destrói sempre muito mais, usa sempre muito mais violência do que os outros. Perguntas bem, «e se as bombas estivessem a explodir na linha do metro entre a Póvoa e Porto?» Porque este é um cenário muito mais parecido com o que acontece no Líbano e com o que há dezenas de anos acontece na Palestina. Quanto à criação de Israel, pergunto-te. Afinal, achas que foi a correcta ou não. Se foi, então é porque a esquerda esteve bem; se não foi, então é porque dás alguma razão à indignação dos muçulmanos. Eu dou-te a minha opinião, foi um erro, mas neste momento temos de o defender, só que não da forma como Israel pretende. O problema dos conflitos no Médio Oriente é que quem manda, quem arbitra, não é neutro. A culpa não é dos israelitas, uma vez que eles são levados naturalmente pela irracionalidade, mas de quem os protege a qualquer preço.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Viva Mário,
A questão em causa nunca será para mim de pura aritmética. A perda de uma vida humana pela violência será sempre demais. O factor dissuasor da superioridade militar israelita explicará, em parte, os números. Outra parte poderá ser explicado pela desinformação do Hezbollah e pela própria estratégia deste que se escuda atrás de civis (inocentes ou não). Não percebo a tua interpretação do que escrevi. No entanto esclareço: refiro-me a atentados terroristas com bombas humanas a explodir no metro do Porto ou nos centros comerciais de Braga. Que eu saiba, nenhum israelita se fez explodir dentro de autocarros, metros ou centros comerciais. A minha questão é esta: seriam tão críticos de Portugal se este tivesse a mesma actuação de Israel e se fosse a Galiza, por questões políticas de ordem territorial, a fazer explodir bombas nos referidos sítios colocando em perigo as vossas vidas e as dos vossos familiares? Dúvido.
Dizes que a criação de Israel foi um erro mas não explicas se esse erro existe por razões de falta de legitimidade histórica (o que me parece indefensável)ou se o erro foi apenas político - uma aposta falhada por parte da esquerda que, face à posterior aliança de Israel com os Estados Unidos, ficou com um amargo de boca. Neste último caso, trata-se apenas de ressentimento e azia política e, por conseguinte, não a comentarei. Fico assim sem saber qual a razão desse erro.
Eu discordo. Acho que a esquerda esteve bem, independentemente das razões da sua acção. Por vezes os melhores actos são praticados em nome das piores razões. Acontece.
Árbitros neutros em política internacional é coisa que não existe. Todos têm os seus interesses a defender. Tu inclusivamente. E o que todos temos de perguntar é se os nossos interesses estão numa ordem política fundamentalista, teocrática e terrorista ou se, pelo contrário, estará com uma ordem mundial assente nos valores da democracia, liberdade e respeito pela dignidade humanas. Eu respondo de caras: quero a segunda.
Leandro, só um exemplo: o País Basco. Alguma vez viste o Governo espanhol responder ao terrorismo da ETA com violência?? Imagina o que seria se o exército espanhol destruísse casas no País Basco, matando inocentes (mesmo que fossem utilizados como escudos), só para apanhar terroristas?
Claro que é por razões históricas que acho que foi um erro a criação do Estado de Israel. Não é possível fazer recuar a história 2 mil anos. Foi o que se tentou fazer. Os judeus foram expulsos da Palestina no tempo do Império Romano. Os árabes não têm culpa disso.
Eu acho que a política da administração Bush apenas aumenta o terrorismo e o fundamentalismo, na medida em que extremiza as posições. Eu acredito na democracia e confio que que ela se vai expandir, mas não através da imposição. A democracia tem o seu tempo e cada país tem de ser autónoma na escolha. O voluntarismo tem péssimos resultados, como se está a verificar no Iraque.
Última coisa: ainda bem que são os EUA a maior potência mundial. É um país extraordinário. Mas isso não me leva a concordar com tudo que este país decide fazer. É bom, até para os EUA, que haja quem não se submeta cegamente a eles, porque o poderio alia-se com grande rapidez à arrogância.
Valha-me Deus, "extremizam", como é bom de ver, não existe. Queria dizer, obviamente, "extremam".
Caro Mário,
O caso da ETA e do hezbollah não são comparáveis. O conflito basco não possui os mesmos contornos civilizacionais e teológicos, nem tão pouco a criação do País Basco implicaria a extinção territorial e política da nação espanhola. Além disso não podemos comparar realidades militares com diferentes graus de ameaça política. No campo das puras especulações talvez possa equacionar uma resposta proporcional à ameaça nos mesmos termos de Israel. Quem sabe?
A história não se faz recuar, escreve-se todos os dias. O actual território de Israel tem a sua génese no reinado de Saúl - há mais de 3000 anos - e tem sofrido o domínio político disperso de árabes (mulçumanos ou não), turcos, ingleses e judeus. Esse domínio foi passando de mão-em-mão pela força das armas. O actual domínio político de Israel tem algo que, na minha opinião, o qualifica: tem expressão numa figura civilizacional de modernismo, o Direito Internacional Público.
Quanto à política da actual administração norte americana, confesso tem contornos que me causam alguns arrepios. As contradições são por vezes assustadoras. No entanto, não esqueçamos que o 11 de Setembro mudou as regras do jogo e o Ocidente ainda hoje luta para se adaptar a uma nova realidade que desconhece em parte. O poder político não sabe bem o que fazer e até onde esticar adequadamente os novos limites das suas respostas. A opinião pública divide-se e é agora, de forma mais intensa, o alvo de guerras psicológicas e de desinformação.
O que não podemos esquecer é que a guerra em Israel é uma guerra que foi trazida até às nossas portas. Tem tudo a ver connosco, portugueses e europeus. Não é um problema dos judeus e dos americanos. Não devemos ser acríticos em relação aos americanos, concordo! Mas certamente concordarás também que não nos devemos deixar arrastar pelo anti-americanismo que alguns já apelam de novo anti-semitismo!