Recentemente através desta notícia no JN sobre a nova velha praça José Régio em Vila do Conde, veio-me à memória o longo historial de edificação desta. Não de vinte anos como é aludido, mas mais propriamente de um quarto de século! Não costumo recordar em nuances de patega nostalgia os anos já passados, pois intentava tirar o gozo possível dos momentos como qualquer petiz, e aí somos todos um pouco robertos de taras e manias, devaneando ao sabor do vento, por vezes mais de aragens matizadas pela maresia que se acercava amiúde.
No miolo de um quarteirão onde se entranha o que é hoje a praça regiana, até princípios da década de 80 quedavam apenas quintais. Parcelas bem prolongadas que se estendiam desde as traseiras das casas que embutiam com o Terreiro (Praça da República) até as imediações da rua 25 de Abril, no Mercado. À tarde eram magotes de putos da zona que se irmanavam nesses quintais para jogarem às guerrinhas ou à trepa dos agigantados muros. Muitas vezes a coisa dava para o torto e lá vinha um vazando um rubro líquido pelo canastro abaixo.
No princípio da década de oitenta a autarquia assenhoreou-se dos quintais e os muros (porventura símiles da inocência) foram sendo derribados um a um. Até o emblemático muro do Sr. Adolfo, meu vizinho, chegou a vez de ser prostrado, abrindo-se cércea passagem desde o Terreiro. Os imensos recônditos que os quintais albergavam deram lugar a uma larga ágora despida de referências, um descampado que uns errantes orbitavam sem outro poiso conforme.
Bem se podia sublimar o desconforto daquela espoliação nas entranhas da filial do Banco Borges & Irmão que paulatinamente se vinha ali imortalizando pela destreza das dúvidas do seu remate final, como que imprimindo o mote que contagiaria a cadência de edificação da envolvente praça. A profusa esfera imaginativa dos miúdos logo forjou nesse espaço campos da bola, pistas de biclas, de skates e outros tantos modos de entreter o tempo a seu belo prazer. O escritor, mais para seu pesar, lá viu ser desfraldada sua estátua empedernida da memória e da vista dos vila-condenses durante dilatados anos e que foi alvo de todos os desaforos que nem sequer divisamos de permeio.
Um ano depois da (pré-)inauguração da Praça, local que se quer de novo fincar como ponto de profuso convívio e diversão, agora sobretudo para os mais graúdos, não deixam ainda de ecoar no meu pensamento os olhares risonhos de meus camaradas de armas de pau e pistolas de esguicho, dos risos em debandada quando algum de nós se enfiava pela lama adentro, ou no ar de consolação quando manjávamos frutos palmados de uma árvore mais à mão.
Confiemos que belos novos dias regressem à Praça e que a estátua do escritor não mais reste ali meia tolhida, sinaleira de novas quadras intermite&mente renovadas.
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