"Nós já sabemos quando é o professor que está a escrever no Messenger. Quando aparece o texto direitinho, com maiúsculas e vírgulas, sabemos que é você!"
É verdade. Eu nem sequer consigo pegar uma peta aos meus alunos, quando nas visitas aos locais de estágio aproveito os messengers para mandar recados a quem está do outro lado da linha. Sou imediatamente desmascarado. Mas não me aborrece. Eu continuo a não escrever "k" no lugar de "que" nos SMS. E sim, podem gozar à vontade, mas as minhas SMS têm maiúsculas e pontuação.
Dói-me muito mais, e aborrece-me mortalmente que a maioria dos meus alunos, a concluir o ensino secundário e com mais altura que juízo, não consigam escrever dois parágrafos seguidos com sentido. E embora esta não seja nem de perto, nem de longe, a minha área, chateia-me imenso que a tarefa mais árdua e penosa que com que os moços se deparam no estágio seja escrever uma porcaria de um relatório.
Nos últimos 15 anos já passei por várias modas da linguagem; foram os "portanto", os "femenino" e os "proíbido" (quem terá inventado estas?), mais recentemente o "nomeadamente" - ainda omnipresente nos telejornais -; e, por último, as vírgulas entre os sujeitos e os verbos nas orações. Já não há muitos textos na escola que escapem a construções como "os alunos, exigem mudanças, nomeadamente, o fim dos exames e a educação sexual". O aspecto até pode não ser hediondo. Concedo. Mas é uma abominação gramatical. E não são só os alunos, infelizmente.
Será uma mania minha? Ainda hoje li uma nota no JN sobre o acordo ortográfico da Língua Portuguesa, que espera 14 anos por ratificação. Mas de que serve o acordo se oiço licenciados a dizer que "será um mau ano para o vinho, nomeadamente ao nível da produção"?
Ah, e para que não restem dúvidas - mais bonito, limpo e asseado seria dizer "será um mau ano para a produção de vinho".
4 Comentários a “Eu, escrevo”
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concordo com tudo, mas lembra-te de que o acordo ortográfico visa apenas a uniformização, tanto quanto possível, da grafia do português. não tem nada que ver com este problema que apontas.
Sim, claro. Mas ainda estamos a gastar tempo e recursos com o acordo, enquanto existem problemas bastante mais prementes.
uma coisa não tem nada que ver com a outra. o acordo ortográfico já está feito. agora é só assinar, ou não. todos os países lusófonos assinaram; só falta Portugal. se não assinarmos vai passar a haver duas formas de grafar o português. a de portugal e a dos outros todos. não interessa se é mais premente ou não, interessa que pode ser resolvido. basta vontade e menos tacanhice.
Alex...nem toda a gente tem o dom da palavra (eu incluo-me)...mas concordo inteiramente contigo com a escrita dos nossos estudantes...
Se no 12ºano os erros são gritantes, ao nível da faculdade são gritos histéricos...
eu, que sou uma nódoa a escrever, fico doente com os relatórios que leio. Não são só os erros propriamente ditos, mas os paragráfos de páginas inteiras e as frases intermináveis dão cabo de mim...