Com indisfarçável vaidade, o telejornal da RTP contou como conseguiu um heróico jornalista da estação entalar o mui-poderoso chefe de governo líbio. na brevíssima conversa com os jornalistas portugueses, a pergunta (com desculpas antecipadas por alguma alteração no palavreado) foi: "algum dos líderes europeus perguntou-lhe se pretende tornar a Líbia num país democrático?". Seguiu-se a não-resposta de Kadhafi e, depois, a ronda dos seguranças a querer (supostamente e sem sucesso) confiscar o vídeo.
Contextualizando esta questão: em alguma reunião lembram-se de ver alguém a perguntar ao rei de Espanha se não acha que está na altura do país vizinho se tornar uma república? Lembram-se de ver alguém a questionar Cavaco Silva ou Mário Soares se o D. Duarte não ficava melhor na fotografia? Recordam-se de terem perguntado a Bush se não se sente incomodado por estar a cumprir dois mandatos apesar de ter perdido duas eleições?
Não, não se lembram. Eu tenho a vaga sensação de que não se lembram porque são perguntas estúpidas. Ninguém aprecia muito fazer perguntas estúpidas. Ops, ninguém vírgula, há um moço na RTP que até lhes acha piada.

2 Comentários a “Uma pergunta para Kadhafi”

  1. # Anonymous Anónimo

    Primeiro, o Bush só eleito uma vez sem ter ganho. Na segunda vez, nada prova que tenha havido fraude. É claro que tu podes acreditar nisso (mas em que teorias da conspiração é que tu não acreditas?), mas não podes afirmar categoricamente. Segundo Bush ainda assim foi a eleições (e se as perdeu foi por pouquíssimos votos), Kadhafi nunca; ainda assim Bush está no poder há 6, 7 anos, e vai sair daqui 1 ano e meio, Kadhafi está no poder há quase quarenta, e não parece que vá de lá sair antes de morrer; ainda assim Bush tem de se haver sempre com os senadores e os congressistas, que são eleitos pelos americanos (a maioria que está lá agora é do partido da oposição); ainda assim nos EUA pode-se criticar o Bush, pois existe liberdade de opinião, na Líbia, ninguém sequer ousa abrir a boca; ainda assim, nos EUA as pessoas têm um excelente nível de vida, na Líbia é o que sabe.
    Terceiro, podes não gostar da Monarquia, eu também não gosto, mas as monarquias europeias actualmente não põem em causa dois valores essenciais da democracia: a liberdade e e a representatividade do poder do povo.
    Por tudo isto não entendo como é que tu saltaste do Kadhafi para o Bush e o rei de Espanha.
    Eu acho muito bem que se façam perguntas "estúpidas" ao Kadhafi, ao Mugabe, ao Eduardo dos Santos e a todos os ditadores africanos. Esta gente é do pior que existe e tem de ser confrontada. Estou farto por exemplo da reverência ao presidente angolano, que governa há trinta anos um dos países mais ricos do mundo e o povo vive na miséria.
    E, já agora, também acho bem que se façam perguntas "estúpidas" ao Bush, ao Blair e por aí adiante, mas não comparo.  

  2. # Blogger Alex

    Viva,
    Desculpa. A frase que eu atribuí ao jornalista saiu-me sem uma palavra, o que alterou o seu sentido. A pergunta era "algum dos líderes europeus..." e não "algum dos europeus...".
    Quanto ao resto, conheces-me bem e sabes que não seria capaz de defender os Kadhafis do mundo. Só achei graça à atitude dos nossos "jornaleiros".  

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