Foi ontem e é hoje a descarnação-incarnação d'"Os Cantos de Maldoror", pelos Mão Morta. Vi o espectáculo de ontem, e é mesmo de espectáculo que se trata. Não foi um concerto dos Mão Morta, tal como não foi teatro nem declamação nem entretenimento light. Foi mais um tudo-ao-mesmo-tempo-agora.
Embora suspeito para falar em nome do conjunto bracarense, tenho de dizer que é preciso muita, mas mesmo muita coragem para que uma banda se exponha assim. Sem recorrer a facilitismos de estilo nem jogar em águas seguras, mas a arriscar tudo. Gostamos? Eu fiquei siderado pela intensidade, outros terão ficado entediados pela falta de âncoras. Mas é preciso estar lá e ver para crer. Podemos esperar pelo DVD, pelas reportagens do ecrã pequeno; acreditem - perceber "Maldoror" é estar lá.
Quanto ao espectáculo em si, houve partes mais e menos fantásticas. Captar o verbo do Conde de Lautréamont em tempo real é tarefa impossível de abarcar, imagino que mesmo para ouvidos, olhos e narizes treinados. As pinceladas do mundo fantástico de Maldoror foram mais vivas em "O Herói (parte 1)", "A Poesia", "A Porcaria" e "O Belo". Mas o turbilhão não deu tréguas durante a hora e meia de distanciamento do real que ontem experimentámos. Quem me dera ver outras vezes tanta paixão, tanto empenhamento, tanta argúcia e tanto conhecimento juntos. Avé Mão Morta.
"Está dito".

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