A propósito deste post, e dos comentários anexos, eu gostava de dizer algumas coisas.
1. Na minha opinião, é absurdo dizer que Cavaco Silva é social-democrata. Os nomes dos partidos em Portugal são um equívoco do 25 de Abril. Todos eles estão inflacionados à esquerda. Aliás, como Mário Soares disse, não é à toa que no estrangeiro o PSD faça parte do grupo do Partido Popular Europeu, do qual, sejamos realistas, nunca Cavaco, enquanto membro e líder do PSD, procurou demarcar-se. A questão do cravo é bem elucidativa. A direita em Portugal não se sente bem com o 25 de Abril e não usa o símbolo da Revolução. Cavaco, como político de direita, faz o mesmo.
2. Há que distinguir entre a direita liberal e a direita, digamos, democrata-cristã europeia (que não tem nada que ver com o nosso, salvo seja, CDS). Temos de ser justos e lembrar que o modelo social europeu se deveu também a esta ala da direita. E é com ela que Cavaco se identifica. O discurso dele vem naturalmente na sequência desta linha de pensamento. Agora, nós temos todos memória, não é verdade? Sabemos todos muito bem o que é que ele andou a fazer enquanto chefe de governo. Por isso é que soa tão falso vê-lo falar de exclusão social.
3. Só mais uma coisa, já aqui disse isto, os discursos dos Presidentes da República não servem para nada. Cavaco falou de exclusão porque lhe deu na real gana. Se fosse primeiro-ministro nem se atreveria a tal coisa; como Presidente está à vontade, porque sabe que nada depende dele.

4 Comentários a “Cavaco”

  1. # Blogger Leandro Covas

    Mário,

    Permite-me a discordância. Não confundas a árvore com a floresta. É verdade que o PSD faz parte do grupo do Partido Popular Europeu. Mas o PSD é o partido político português mais heterogéneo em termos de origens ideológicas. Posso dizer-te que dentro do PSD existe um conjunto vasto de militantes que orgulhosamente proclamam a sua filiação ao PPD-PSD, querendo com isto significar a sua adesão a uma social-democracia de cariz nórdico e de legado carneirista. Eu sou um deles.
    É verdade que Cavaco é um directo herdeiro de Sá Carneiro. Mas também é verdade que o PSD tem derivado para o centro-direita após a liderança de Cavaco. Daí a oposição feroz entre o PSD de Cavaco e o CDS e a convergência actual.
    A grande justiça à governação de Cavaco será feita pela história. Não a espero da esquerda portuguesa.
    Quanto ao discurso, não sei o porquê do alarido. Dias antes do discurso, participei numa conversa onde uma pessoa amiga fazia sentir a sua percepção do maior fosso entre ricos e pobres. Cavaco falou dos excluidos e dos mais pobres, mas também se referiu a uma classe média-baixa, que despoletou com ele e vingou com Guterres,que agora vê a sua condição social regredir. É também com esta imensa maioria que nos devemos preocupar.
    Um abraço.  

  2. # Blogger Mário Azevedo

    Leandro, eu não fiz alarido nenhum. Para mim, os discursos dos presidentes são absolutamente inúteis.
    Em relação à posição ideológica de Cavaco, apetece-me pegar naquela frase de Cristo: «diz-me com quem andas dir-te-ei quem és». Basta olhar para as pessoas que estiveram com Cavaco na campanha para conhecer as ideias que defende.
    Abraço  

  3. # Anonymous Anónimo

    Oi, Mário

    concordo. Achei tua análise sensata nos 3 ítens.
    É isso mesmo: conhecemos um determinado político pelas idéias que defendeu ao longo de sua estória -, dentro ou fora do governo. E o mesmo vale para qualquer partido. E sabemos todos, da diferença que existe em um "discurso" de um primeiro ministro e outro de um presidente. E por essa razão, em várias situações que vão surgindo, "temos" todo o direito de pensar ou dizer: "ora, não me venha com essa porque te conheço de outros carnavais"... ;)

    bai  

  4. # Anonymous Anónimo
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