Porventura o escritor que mais tenho lido nos últimos anos tem sido Wenceslau de Moraes. E em cada renovação da sua leitura não me deixa de surpreender a excepcional qualidade literária, quer narrativa, quer descritiva/expositiva patente nas suas inúmeras obras. Particularmente o seu profuso ecletismo e infindo sentido de humanidade e respeito por todas as formas de vida que o circundavam. Como a generalidade de todos os lusos que partiram de Portugal e singraram noutra terras permanece imensamente esquecido. Os nossos ilustres emigrantes sempre foram mais acarinhados e celebrados nas terras que os acolheram, ao invés de onde foram gerados.
Pedro Barreiros, oficial general médico, natural de Macau (mas que vive desde a juventude em Portugal) tem sido nas últimas décadas quem mais tem porfiado em Portugal pelo justo reconhecimento da obra de Moraes. Há dois anos foi ele o principal impulsionador e organizador (e Comissário-geral) das comemorações dos 150 anos do nascimento (1854), em Lisboa, de Wenceslau de Moraes. Dois anos volvidos é ele também o rosto principal por detrás da recém-criada Associação Wenceslau de Moraes. Esta associação que realizou a sua apresentação ao público em 27 de Fevereiro de 2006, no centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, pretende incrementar a difusão da sua obra, bem como aproximar o Ocidente do Oriente, como defendia o escritor e militar português, e que o demonstrou de modo modelar apenas com o seu exemplo de vida. Pedro Barreiros assume a Presidência da associação sendo coadjuvado por Ingrid Bloser Martins, viúva do Embaixador e escritor Armando Martins Janeira, que foi o biógrafo e grande impulsionador do conhecimento sobre Wenceslau de Moraes no Japão, país onde o escritor/militar viveu durante 31 anos até à sua morte em 1929, então com 75 anos.
Na sessão de apresentação foi projectado um documentário sobre W. de Moraes realizado pela Universidade Aberta. A sessão pública contou ainda com uma mostra/venda de todas as obras de Moraes reeditadas em 2004 e com o lançamento de “O-Yoné e Ko-Haru”, livro que foi editado pela última vez em 1923 e que regressa agora ao mercado pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda. Pedro Barreiros lembrou na altura que Wenceslau de Moraes “que conheceu bem a alma do povo japonês, nunca perdeu a sua ocidentalidade, nem a sua ligação a Portugal” e afirmou também que “a obra literária de Wenceslau de Moraes está ainda muito esquecida. Por isso, a associação pretende dar continuidade às comemorações de 2004, quando se celebraram os 150 anos do nascimento do escritor”, tendo para isso previstas reedições, exposições e conferências sobre a vida e obra do autor.
A primeira actividade da Associação é a realização de uma exposição, que foi inaugurada a 11 de Março, e que decorre no Salão do Hospital Termal das Caldas da Rainha, versando sobre a vida e obra de Wenceslau de Moraes. Esta exposição tem vindo a ser acompanhada por um ciclo de conferências na Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha. Entre os oradores que participam nas palestras estão, além de Pedro Barreiros, presidente da associação, o ensaísta Daniel Pires, o escritor Rui Zink e a investigadora Ana Paula Laborinho, autora do livro “O Essencial sobre Wenceslau de Moraes”.
Nota: O retrato de W. de Moraes acima afixado é de autoria de Abel Manta
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