Ontem à noite estive com o Mário (e mais uma data de gente) reunidos na tertúlia (que era) do costume, e ele sai-se com esta - "eles ganharam". (Mário, não te importas que transcreva a conversa, pois não?!)
"Eles" eram os liberais, os neo- e os clássicos, os Barrosos, Blairs, Thatchers e Merkels do nosso tempo, que no espaço de uma geração arrebentaram com a ideia do estado social e socialista - ou como eu prefiro chamar, do estado solidário.
O Mário, como é costume, tem razão. Mas acho que ele ainda se pode ter enganado no tempo verbal: pode ser que eles estejam a ganhar, porque por mim a guerra não acabou.
Lembro-me de na escola primária, ter visto um desenho no manual - penso eu que de Matemática. Mostrava dois bolos, um pequenino e um grande. A pergunta era: preferes ter o bolo pequeno todo para ti ou ter uma fatia do bolo grande. Naquela altura eu escolhi a fatia do bolo grande. Já passaram quase trinta anos, mas eu ainda não mudei de opinião - eu não quero o bolo todo para mim.
É claro que isto cansa. Cansa justificar porque é que eu quero pagar mais impostos, porque é que acho que devíamos subir as contribuições para a segurança social, porque é acho injusto que os funcionários público descontem apenas 1% do ordenado para a ADSE, porque é que não encaro com bons olhos a privatização da saúde e da educação, porque acredito que as empresas públicas lucrativas não deveriam ter sido privatizadas.
Mas não vale a pena dizerem-me que não vale a pena. Eu não desisto. Como eu disse ontem ao Mário, há o fluxo e o refluxo. Quando o refluxo vier, se eu não estiver por cá, vão estar os meus filhos e os meus alunos, os meus colegas e amigos, ou os filhos deles, ou os amigos deles. E quando me falam de competição e produtividade, eu respondo solidariedade e empatia. E é esta a mensagem que lhes passo. Se eu tiver de perder, vai ser de pé e a espernear.
Eu ainda sou socialista.

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