A escassíssima adesão à greve geral de hoje e o nulo impacto desta na vida do país revelam que temos um sindicalismo fraco e pouco credível. E é uma pena que assim seja.

Está esgotado o actual modelo sindical. As baixas taxas de sindicalização demonstram-no à saciedade. Os trabalhadores preferem negociar directamente com os patrões. As comissões de trabalhadores negoceiam directamente com o patronato (e muitas vezes em matérias que extrapolam as suas competências). Os trabalhadores encaram com desconfiança os sindicatos, que reputam como instrumentos da velha luta de classes ao serviço do PCP.

Um novo modelo impõe-se. Um modelo em que os representantes dos trabalhadores o sejam efectivamente, que lutem exclusivamente pelos interesses dos trabalhadores; que reconheçam que entre trabalhador e empresa existe um âmbito de interesses comum; que não se trata de uma luta política ou de classes mas antes de uma luta de competitividade.

É nestes pormenores que verifico que ainda estamos a pagar o preço da rêverie de Abril.

PS. Há uns meses, durante uma viagem Porto/Lisboa no Alfa viajaram comigo dois dirigentes sindicais. Passaram a viagem toda a discutir a rivalidade Lisboa/Porto no acesso aos lugares que lhes permitem viajar para congressos internacionais. E pela descrição de alguns dos restaurantes de várias cidades europeias verifiquei que a festa já era habitual. Não há nada como ser dirigente sindical e beneficiar desse estatuto legal.